ABJECTO
Vi ontem cerca de 5 minutos de um programa chamado O Momento da Verdade. Já tinha visto cerca de 5 minutos na semana passada. Não consegui ver mais do que 10 minutos na totalidade. O programa enoja-me. Não sei porquê, mas enoja-me. Tento perceber porquê. Certamente não será por as pessoas dizerem verdades, nem por as dizerem à frente de quem as queira ouvir, nem por as revelarem em troco de dinheiro, nem por confiarem a verdade a uma máquina que ajuíza da verdade ou da mentira das respostas dadas. Estou-me nas tintas para tudo isso. O que me revolve o estômago naquele programa não é a verdade nem a mentira, não é a completa perversão de valores que considero tão fundamentais como o valor da intimidade. Que alguém queira prescindir da intimidade é lá consigo. Que alguém não queira ter segredos, algo que me faz, no mínimo, suspeitar da veracidade daquelas verdades, é lá consigo. O que eu não suporto, o que eu não suporto de todo, é a ideia de que a verdade pode ser respondida com um sim ou com um não, como se fosse uma coisa linear, mecânica, robótica. As pessoas que se sentam naquele programa saberão se estão a dizer a verdade ou a mentir quando confessam traições, revelam desejos ou declaram frustrações comprometedoras de terceiros. Provavelmente conhecem-se a si próprias como nem o mais sábio dos filósofos se conhece. O que me irrita, enoja, o que me faz acreditar menos em todas aquelas e noutras verdades é a presunção de que a verdade pode ser resumida a um sim ou um não. Badamerda mais essas verdades.
7 Comments:
a velha perversidade humana levada até aos novos programas de entretenimento: tudo se compra e se vende: até a alma.
(duas ideias tuas que são importantes: o valor fundamental da intimidade/segredo e a a verdade de sim ou de não: ou de como nos nossos dias depois de conquistados a custo alguns dos mais importantes direitos vão sendo dados ao desbarato)
ainda não vê tal programa, mas li numa revista qualquer coisa sobre o mesmo e pasmei
concordo sim, é um programa
(se assim se pode chamar aquilo de programa)de dar arrepios. apenas ouvi as três últimas questões e deu para ver. não compreendo.
merda sobre merda. Intragável.
foste corajoso em ver 10 minutos daquilo.
eu nunca vi, mas o que me contaram foi mais do que suficiente para me impedir de ver.
bardamerda mesmo. será isto liberdade de expressão? de televisão?
selvajaria.
Eu gostei. Aprende-se muito. Até o Pacheco Pereira escreveu sobre o assunto. Quem não gosta não come. Quem não gostou é feio. Só há dois tipos de pessoa: os que vêem e os que mentem ao dizer que não vêem. A tua televisão não tem o botão para desligar? Quem o diz é quem o é. Mais vale falarem mal do que não dizerem nada. Tem um profundo interesse sociológico. Só dizes isso porque tens inveja. Falas, falas, mas não te importavas de levar aquele dinheirinho todo. No fundo, no fundo, quem mais mal diz é quem mais se deliciou a ver. A televisão limita-se a mostrar o que o povo gosta, se mostra isto a culpa é do povo que só gosta disto. Foi giro. Quero mais.
Tudo é relativo,
Um sim ou um não pode ser muito relativo, mas é ele que te dá direito a 250.000€ eu não tinha coragem para lá ir, a minha intimidade é íntima demais, (nem por todo esse dinheiro) o melhor a fazer é depois de um sim ou um não, comentar, desenvolver, porque um Sim ou um Não... é relativo
De resto e como em toda a nossa televião portuguesa, só vê quem quer, infelizmente boas alternativas são escassas...
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