LIDOS OU RELIDOS EM 2008 (3)
“Estórias Domésticas”, Henrique Manuel Bento Fialho, Ovni (2006)
1. “Estórias Domésticas” é uma casa-fialho, antítese da casa-televisão que aparece na capa, metáfora inversa e desligada porque vinda do futuro, como um ovni ou aquela pedra negra do filme do Kubrick que tanto perturba os macacos.
2. A casa-fialho é uma casa-corpo, isto é, uma casa-macaco, o mais longínqua possível dos seres que nos visitam e se deixam entrever nas alucinações motivadas por insuficiência alcoólica. Fialho é fialho e não gosta de cyborgs, a menos que se chamem, por exemplo, moura ou guerreiro ou quitéria.
3. Existir é representar mais uma vez a corrupção do corpo, castigá-lo até ao esquecimento. Esquecimento é uma palavra-órgão do corpo-fialho e daí a insónia, porque a insónia resulta do terror do sono onde não haja mais nada para esquecer. Não haver nada para esquecer é igual a perder o corpo. É como não haver mais álcool pra beber ou cigarros pra fumar, quase tão mau como, por exemplo, ter uma obra ou conquistar a santidade.
4. A salvação – essa puta – é tornarmo-nos, pela primeira vez na nossa epopeia azul, mortais. O corpo-fialho não quer ser Travolta, quer ser um “Travolta qualquer” (p 86), esse mesmo que diria “cozi-me por dentro” (p 25), “cortar-me todo” (p 35), “até desfazer retinas” (p 44) ou “estive perto de me afogar” (p 34); Travolta, como um verdadeiro herói, ter-se-ia afogado.
5. Claro que o autor-fialho depois (de fechar o livro) liga a televisão. Faz dieta durante alguns minutos, respira fundo três vezes, preocupa-se com não desiludir o editor. Sabendo que as estórias domésticas são apenas quase verdadeiras, voltamos a lê-las mais um ror de vezes.
Rui Costa
2. A casa-fialho é uma casa-corpo, isto é, uma casa-macaco, o mais longínqua possível dos seres que nos visitam e se deixam entrever nas alucinações motivadas por insuficiência alcoólica. Fialho é fialho e não gosta de cyborgs, a menos que se chamem, por exemplo, moura ou guerreiro ou quitéria.
3. Existir é representar mais uma vez a corrupção do corpo, castigá-lo até ao esquecimento. Esquecimento é uma palavra-órgão do corpo-fialho e daí a insónia, porque a insónia resulta do terror do sono onde não haja mais nada para esquecer. Não haver nada para esquecer é igual a perder o corpo. É como não haver mais álcool pra beber ou cigarros pra fumar, quase tão mau como, por exemplo, ter uma obra ou conquistar a santidade.
4. A salvação – essa puta – é tornarmo-nos, pela primeira vez na nossa epopeia azul, mortais. O corpo-fialho não quer ser Travolta, quer ser um “Travolta qualquer” (p 86), esse mesmo que diria “cozi-me por dentro” (p 25), “cortar-me todo” (p 35), “até desfazer retinas” (p 44) ou “estive perto de me afogar” (p 34); Travolta, como um verdadeiro herói, ter-se-ia afogado.
5. Claro que o autor-fialho depois (de fechar o livro) liga a televisão. Faz dieta durante alguns minutos, respira fundo três vezes, preocupa-se com não desiludir o editor. Sabendo que as estórias domésticas são apenas quase verdadeiras, voltamos a lê-las mais um ror de vezes.
Rui Costa
2 Comments:
A "salvação" é tão puta quanto a perdição.
São duas putas de respeito...:))))))
La Maison-fialhô, está em franca produtividade. Aguardem.
bem ditas :)
Rui Costa
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