PAUL NEWMAN (1925-2008)
Na morte do actor, mostram-se velhas imagens de um homem novo. Mas o actor não morreu novo, morreu velho. Morreu com a pele manchada de memórias, calvo, enrugado, com os músculos flácidos e o corpo devorado por um cancro. As imagens mais recentes tentam disfarçar o homem velho, mas nenhuma imagem logra disfarçar a escultura do tempo. O actor morreu velho. Deixem-no ser velho, dêem-lhe descanso.
11 Comments:
e a velhice é um estado tão bonito
A morte ainda é mais, ó firmina!!
Henrique, desconheço se o Paul Newman pediu para que a sua notícia necrológica fosse acompanhada de "velhas imagens de um homem novo", tampouco se deixou sequer algum capricho escrito para a sua cerimónia fúnebre.
Lembrei que o Marlon Brando, na velhice, estado sobre o qual discordo da Firmina, afastou-se das câmeras de modo a ser recordado como um homem bonito e musculado e "arranca-corações".
Lembrei também que o Raymond Radiguet fazia questão que em todos os seus livros constasse um "retrato enquanto jovem" e que essa birra lhe valeu cognomes como "o eterno adolescente" (Manuel Gomes).
Valham os caprichos, na hora do cancro...
ainda agora congratulei- me com o espumante que também tinha colocado uma fotografia de Paul Newman velho. O Paul Newman foi bonito em jovem e em velho. Reparem no olhar (não tem nada aver com a cor dos olhos)
eu hesitei. minto: procurei uma com ele já de idade, mas não consegui nenhuma que lhe fizesse jus. escolhi outra.
essa mesmo: por causa do olhar.
desculpe-me o vitor vicente, pois não gosto de entrar em teimosia, mas qundo se é verdadeiramente belo, a velhice é um encanto
Já se estava à espera da notícia da sua morte, mas é sempre um choque para um cinéfilo como eu.
E o homem cativava. Pelo charme, pelo sentido de humor, pelo lado cool de um americano que sabia ser subtil na abordagem à vida.
O primeiro filme dele que eu vi não foi certamente o "The hustler" (A vida é um jogo), em que é um craque no "Pool", que nós em Portugal apelidamos erradamente de snooker.
Mas se tivesse de escolher um filme dele, seria este. Mais do que o clássico extraído da peça de Tenessee Williams (Gata em telhado de zinco quente).
Já foi magnífico ver a remake do The Hustler, com "The colour of money", num duelo geracional, que é um western: o velho cowboy do taco (um pouco como Clint Eastwood, no Unforgiven) e o jovem lobo pistoleiro (Tom Cruise). E que magnífica evocação foi do The Hustler.
Na vida real, Newman e Cruise assumiram cumplicidades e dividiram a paixão da competição automóvel ("Dias de tempestade", visto no magnífico ecrã do Império). Paixão essa que bem provava o gosto de Newman pela vida.
E ao contrário de muitas vedetas de Hollwwood, Newman tinha uma vida sentimental anormalmente estável, com Joanne Woodward.
Na hora da sua morte, é também impossível não lembrar a sua dupla com Robert Redford, em "Butch Cassidy and Sundance Kid" --- Dois homens e um destino. Tenho na memória a cena em que ele, Redford e Katharine Ross andam de bicicleta, ao som de Burt Bacharah.
Depois, em "A golpada" (The sting)é já a música do ragtime e dos wise guys que nos arrebata a vista e os ouvidos.
Mesmo nos últimos filmes Paul Newman consegue sempre dar uma dimensão de grande actor às suas prestações.
Lembro apenas mais um, para mim de culto, mas que em Portugal passou completamente despercebido.
"Slap Shot" (esqueci-me do título em português, estava mesmo aqui a bailar-me na língua...). Uma magnífica comédia sobre uma pequena equipa americana de hóquei sobre o gelo, numa terreola esquecida. Uma parábola sobre o desejo de vencer, a ética, os amores e uma certa América.
Realização de um homem que bem soube tirar partido de Paul Newman: George Roy Hill. Vi em 1980 nos ecrãs do Tivoli. Cá em casa tenho o DVD com a edição comemorativa.
Os outros actores principais eram a Lindsay Crouse e o Michael Ontkean.
Ficou-me também marcado o tema musical de "Right Back from the way you came from", que se ouvia sempre que a camioneta da equipa partia em digressão.
A revista "Première" (num regresso que se saúda, muito por culpa da persistência e da coragem do José Vieira Mendes) voltará às bancas a 3 de Outubro. Provavelmente, não terá espaço e condições para fazer a Newman a evocação merecida. É também provável que saia qualquer coisa, a remeter para um elaborado artigo em Novembro. Fico à espera.
De Paul Newman fica-me o rosto, os olhos, o sorriso, a voz. E aquele jeito terno de ser gozão. Prefiro recordar-lhe o rosto jovem, mas a velhice foi-se-lhe sempre colando com uma gloriosa resignação.
E também faleceu um nome grande da BD: Raymond Macherot, autor de "Clorofila e Mínimo" e "Coronel Clifton".
E seria muito bem dada uma salva de tiros com o chapéu-de-chuva/carabina de Clifton. Paul Newman apreciaria.
faltou-lhe, caro luis graça que me concedeu a graça de uma boa noticia (a volta da Première) e de uma evocação bonita, o mais espantoso, melhor dito, os mais espantosos para mim: os que ele realizou. desses, 'o efeito dos raios gama no comportamento da margaridas', e, caramba que não me lembro do titulo em portugues, 'jardim de cristal', será? (glass menagerie no original), marcaram-me tanto ou ainda mais do que aqueles que ele protagonizou.
a ver se a rtp2 lhe dedica um ciclo que os inclua. isso, sim, seria serviço público.
já me lembrei: algemas de cristal.
Agora que a morte o libertou da velhice e da doença, bem pode ser lembrado da forma que quisermos.
Lembro dele em Rebeldia Indomável
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