A VERDADE NÃO BASTA
Mais do que o artigo de Mário Crespo, o artigo de Clara Ferreira Alves merecia ser analisado (só o li na reprodução feita pelo Pimenta Negra). Falta-me o talento para tal. No entanto, questiono-me sobre esta súbita manifestação de raiva de alguém que, como certo dia opinou Vasco Pulido Valente (outro herdeiro dos deprimidos da Geração de 70) , «foi um dia arvorada directora da "Casa-Museu Fernando Pessoa" pela conhecida irresponsabilidade de Pedro Santana Lopes, de quem ela tinha sido uma entusiástica partidária». De resto, o estilo de CFA não se distingue daquele que VPV usou contra a conhecida comediante do programa de entretenimento que dá pelo nome de Eixo do Mal. Fala de cavalgaduras sem nomear cavaleiros, o que torna a crónica num mero e inconsequente exercício literário. Queremos saber quem são os tipos que chegaram ao topo dizendo terem formação que nunca adquiriram. Repare-se que o mesmo já tinha dito VPV a respeito de CFA. Pelo menos, ao primeiro reconhecemos a honestidade de apontar o nome ao visado. A enumeração de casos não é difícil. Eu tenho feito mais ou menos o mesmo e não me pagam para isso. Mas seria, no mínimo, honesto que CFA sustentasse as opiniões com factos. É que elas vão além de si próprias, esbarram na denúncia sem carácter, ou seja, naquilo a que o povo chama boato e regateirice: «Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa (…) distribui casas de RENDA ECONÓMICA (…) aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a “prostituir-se” na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos». Só queremos saber quem são os bandalhos e as prostitutas, pois já sabemos quem honesto. Poderia discorrer sobre o resto do artigo, mas as perguntas resvalarão sempre na mesma dúvida: a quem se refere CFA? Quem aponta ela? Será que aponta para o vazio? Será que sabe o que mais ninguém sabe? Será que está na mão de provas que escaparam à justiça? Será que já mergulhou na «camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade»? Terá ela escavado a verdade? Saberá ela o que é uma enxada? O maior fracasso da democracia portuguesa não é nunca virmos a saber a verdade, pois noutra coisa não se sustentam os sistemas políticos, entre os quais a democracia, ou seja, na omissão da verdade. E a verdade já toda a gente está farta de saber: de quatro em quatro anos o povo vota nos mesmos aldrabões de sempre porque prefere viver na mentira a ser confrontado com a porcaria que vem legitimando com as suas próprias práticas. Em democracia, manda o povo. O mesmo povo que prefere estar do lado de quem distribui os rebuçados a manifestar-se contra esses comerciantes de lugares e de posições, incorrendo assim no risco de perder o doce à boca e ficar de mãos a abanar. O maior fracasso da democracia portuguesa é toda a gente julgar que há uma verdade para lá daquilo que toda a gente sabe, não fazendo por isso mais do que escrever artigos lacónicos sobre o improvável, acreditando que a sua verdade só está por provar porque contra ela se erguem obscuros paradigmas. Digamos todos o que sabemos, sejamos honestos connosco próprios agindo em função do que dizemos ser o nosso pensamento (repetidamente separado da prática), e o problema da democracia portuguesa está resolvido. A verdade, por si só, não basta. É preciso ser consequente com a verdade.
3 Comments:
Henrique, com ou sem depressão «dos anos 70», seria interessante ouvir/ler o VPV contar, quando «foi» ou fez de conta que era ministro da Cultura, aquele irrelevante episódio do incêncio que devorou a Galeria de Arte Moderna de Belém, onde jazia o guarda-roupa do Verde Gaio.
Mas o VPV é outro artista. Andou a passear-se pelos corredores do poder e nem chegou a saber onde ficava a casa de banho.
para denunciar uma situacao e adjectiva la,nao e'obrigada a apresentar uma lista. O que interessa assegurar e a veracidade do facto
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