29.7.05

Cenas de Infância

Cenas de Infância Op. 1 - Joaninha Pintora

Um pequeno ovo Kinder chocolate tinha no seu interior um ovo mais pequeno amarelo. Eu não vi o ovo de chocolate que ele comeu, mas sei como é, ele depois ofereceu-me o brinde. Dentro do ovo amarelo estava uma Joaninha de plástico, com umas bolinhas de aguarela e um pequeno pincel. A Joaninha estava desmontada e vinha com instruções para se colocar a funcionar. Mal a vi, tratei logo de a colocar em acção. É claro que tudo isto é metafórico, porque a Joaninha era tão pequena quando inteira, que apenas entendíamos que continha aguarelas debaixo da carapaça, quando abria as asas. Aliás, possuía uma circunferência amarela, azul e vermelha no seu interior aberto. O pincel encaixava, graciosamente, numa das suas patas, mas a Joaninha não pinta, a Joaninha pintora brinca, voa, voa...

Cenas de Infância Op. 2 - Eco

A Joaninha está muito atarefada esta manhã: foi buscar um banco de madeira, que é quase maior que ela, e arrastou-o para o pátio da entrada do monte, já o conseguiu colocar junto ao muro. Assim, subiu o banco para puder sentar-se no muro e olhar a planície. A Joaninha no topo do muro chama pelo eco, um amigo novo, que anda ali escondido e repete tudo o que ela diz. Os seus irmãos mais velhos já lhe explicaram muitas vezes o que é o eco, mas a joaninha não acredita. De cima do muro, vê apenas a planície e um outro monte muito longe. Os irmãos descreveram-lhe como a sua voz batia num muro lá muito ao fundo, voltando outra vez. Ela continua a insistir que alguém está ali escondido e observa atentamente a planície, perguntando:
- Ó eco, quem és tu? Ó eco, porque me respondes assim? Ó eco, onde estás? Ó eco, és meu amigo?

Cenas de Infância Op.3 - Bolo de Noiva

M.M: Sabes uma coisa? Pedi-a em casamento outro dia. O que é que tu achas?
M.J: Ó Joaninha, é claro que ele me pediu em casamento só por causa do bolo de chocolate que fiz. Disse que assim, só ele é que pode comer do bolo, tu não podes, nem a tua mãe, nem o teu pai. O meu bolo de chocolate é independente, não acho isso certo...
Joaninha: Eu também não, porque o chocolate que comi há bocado, se fosse maior, também o tinha oferecido a toda a gente...

Cenas de Infância Op.4 - Sombra

A Joaninha estava às escuras na cama, a tentar adormecer e sentiu uma sombra que se mexia do seu lado esquerdo, junto à almofada. Ficou assustada, esta sombra era um braço de a apanhar e levar no escuro, queria roubar-lhe o sono, sabia a medo e frio, ficou toda arrepiada. Então, com muito cuidado, estendeu o braço direito e acendeu o candeeiro na mesinha de cabeceira ao seu lado: não havia sombra nenhuma, o seu braço esquerdo estava debaixo da almofada, mal o sentia devido ao peso da cabeça sobre ele. O braço de a apanhar e roubar o sono, afinal, era o seu dormente braço esquerdo. O problema foi ao abrir a luz: a irmã que estava a dormir na cama do outro lado da mesinha de cabeceira, de repente sentou-se, muito direita e de olhos abertos perguntando:
- Que horas são?
Respondeu-lhe que era tarde e voltou a apagar a luz. De manhã, quando o despertador tocou e foi abrir a janela, a sua irmã pregou-lhe um susto com a luz do dia, bem maior que a sombra nocturna do seu braço: ela continuava sentada na mesma posição, muito direita, com a roupa nos joelhos, perguntando as horas, de olhos abertos. A irmã dormira assim toda a noite. A Joaninha apenas disse que já eram horas de acordar.
Maria João

2 Comments:

At 7:55 da manhã, Anonymous Anónimo said...

o que a maioria das pessoas nao sabem é que a joana voa. ela é a performance em pessoa. pergunten-lhe pela foto: CUIDADO PERIGO DE QUECA. aí é que ela se revelou uma grande publicista.
beijos da tribo
cesar figueiredo

 
At 10:05 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Grande César, que SAUDADES...!Perigo de queca? Sempre com esse modo caloroso de falar do Porto, que aqui na planície soa a palavrão, fico sempre baralhada. E o Porto, saudades do nevoeiro, da húmidade junto às paredes, aquela mistica granitica...
Grande César, a performer não é a Joana, nem a Maria Cândida, é a Madame Jenkins, e ainda não foi publicitada, mas o xamã-mor conhece. Gostei de te encontrar aqui, agora já sabes...
Beijinhos para toda a tribo
MJF

 

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