19.11.05

As Manifestações de Afecto

Estou deveras preocupado com as manifestações de afecto nas escolas. Ainda por cima entre homossexuais, essas aberrações da natureza que pretendem comandar o mundo. Na "minha escola" não há homossexuais. Ainda bem. Eu sei disso, porque já andei a piscar olhos pelos corredores e pelas salas. De vez em quando, vê-se por lá uma manifestação de afecto ou outra. Mas é sempre de acordo com os desígnios da mãe natureza e do senhor bom Deus. Um menino e uma menina à porta duma sala, por exemplo. Há também uns professores mais malandrecos que, diz que, se metem com umas alunas e coisa e tal. Manifestações de afecto que não fazem mal a ninguém. Há outras, as do costume, nada preocupantes. Por exemplo, professores que recorrem aos serviços de psicologia porque andam a sofrer pressões dos alunos. Não são muitos, na "minha escola". A "minha escola" é uma escola pequena. Mas dizem os números que, em 2004, 97 professores portugueses foram agredidos. Fala-se até em profissão de risco. Há as agressões físicas, manifestações de afecto mais incisivas, e as agressões psicológicas, manifestações de afecto mais subtis. Eu trabalhei numa escola onde fui alvo desse tipo de manifestações de afecto. Felizmente, nunca ninguém se indignou contra tais manifestações. Agora, meu Deus!, duas raparigas, dois homossexuais, aos beijos numa escola! Ai Jesus, ais Jesus, onde este país vai parar?! Dê-se cabo da paixão e do amor! A gente quer é mais gente frustrada a encher as clínicas de psiquiatria! Afinal, não há para aí tanta improdutividade e desemprego? As manifestações de afecto indignam, sobretudo as mais ignóbeis. As que surgem duma crispação epidérmica contra o amor, a paixão, o bem estar dos outros. Filhadaputice de país: tanta coisa por fazer na educação, nas escolas, e meio mundo preocupado com um linguado. Se a gente culta deste canto à beira mar plantado demonstra tanto provincianismo, tanta saloiice, tanta estupidez, com que legitimidade poderemos nós exigir ao povo que vota nas fátinhas e nos avelinos que o não faça? O povo é estúpido? É. Mas o povo, como bem sabemos, somos todos nós. (P.S.: escrito de jorro, com a garganta no nó.)

1 Comments:

At 3:27 da manhã, Blogger soledade said...

Em Lisboa, sábado passado, vinda da FAC de Letras, tomo um taxi: conversa de circunstância. O taxista diz vai emigrar, destino UK,("Aqui não dá"). Pergunta se sou professora, e de quê, digo que sim, do secundário. Fala-me do receio que sente cada vez que entra no perímetro de uma escola. "Vêm em bandos, chamam nomes, palavrões, olhó fogareiro, dão pontapés no carro... A sra não tem medo?" E exprime uma incompreensão, um sentimento de distância. "Eu tenho 30 anos, não sou velho, mas não entendo estes miúdos, não os entendo".
Pois é. O taxista vai para Inglaterra...

 

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