Do machismo caviar

Lembro-me de ter assistido a uma cena absolutamente hilariante num Prós & Contras recente. O painel de comentadores (como agora se diz que se diz) era constituído por gente mormente ligada à economia. De um lado, um inspiradíssimo qualquer coisa Beleza que passou o programa todo a tentar ter graça com piadolas farsolas sobre o mundo de que ele fez parte e ajudou a criar. Algumas dessas piadolas consistiam em meras alusões estapafúrdicas aos dotes físicos (a haver) da dona Felgueiras, da mulher do presidente do FCP, inclusive da apresentadora do programa, etc. Na plateia, quando chegou a vez do inefável Luís Osório dizer de sua justiça, ele que era um dos convidados endereçou um piropo a uma das convidadas, da qual lamento não haver retido o nome, argumentando ter o tal Beleza se esquecido da senhora em causa. Esta, com ar muito grave, defendeu-se, talvez com alguma ingenuidade, mas com muita pertinência: «Num país que lamenta a ausência de mulheres no mundo da política, é triste verificar que as que dão a cara (não sei se se referia à mulher do Pinto da Costa) servem apenas de pretexto para piropos sobre os seus dotes físicos.» A coisa não foi bem assim, mas foi mais ao menos. Ora, quero com isto dizer que acho dum provincianismo (não aprecio o termo, mas aplico-o na mesma) atroz esta mania de fazer piadinhas fáceis, pobres e estéreis acerca das mulheres com acento no mundo da política que (coitadas) foram gracejadas pelo estro estético da mãe Natureza. A vítima mais recente é Joana Amaral Dias que, tendo o defeito de ser bonita, parece não merecer qualquer tipo de respeito e credibilidade pelas suas palavras. Isto é só um sinal de que, apesar de mais sofisticados, continuamos a ser um país de machistas (puritanos). Mal por mal, continuo a preferir o Zé que escarra para a calçada e coça os tomates na praça pública.