1.11.05

ONDE NÃO PODE A MÃO

Como se uma estrela hidráulica arrebatada das poças,
Tu sim deslumbras, Por coroação:
por regiões activas de levantamento:
por azougue da cabeça,
Brilhas pela testa acima,
Ceptro: potência – ah sempre que o chão crepita
dos charcos de ouro,
E no corpo trancado a veias
e nervos: o sangue que se afunda e faz tremer
tudo, Tocas
com um arrepio de unha a unha
o mundo, Pontada
que te abre e aumenta
ou
- onde se um troço dessa massa
intestina: e como respirada: às queimaduras
primitivas – Boca:
sexo: viveza
das tripas: uma glândula que te move
ao centro, Amadureces como um ovo,
Na traça carnal: todo
com um golpe com muita força para dentro

Herberto Helder

Herberto Helder nasceu no Funchal no dia 23 de Novembro de 1930. Aos oito anos ficou órfão de mãe, doente desde o seu nascimento. Entre 1949 e 1952 frequentou o curso de Filologia Românica, na Universidade de Coimbra. Publicou os primeiros poemas por essa altura, na colectânea Arquipélago. De regresso a Lisboa, trabalhou na Caixa Geral de Depósitos e, posteriormente, como angariador de publicidade. De resto, são múltiplos os ofícios que se conhecem ao poeta (meteorologista, delegado de propaganda médica, criado de cervejaria, cortador de legumes, policopista, guia de marinheiros em bairros de prostituição, encarregado de biblioteca, etc). Em 1954 deu à estampa três poemas na colectânea Poemas Bestiais. Nesse mesmo ano, de regresso ao Funchal, encontrou-se pela última vez com o pai, que lhe negou dinheiro para ir para o Brasil. De novo em Lisboa, frequentou o grupo do Café Gelo e colaborou com vários jornais e revistas. O seu primeiro livro, O Amor em Visita, publicado por Luiz Pacheco na Contraponto, apareceu em 1958, ano em que partiu para França. Viveu em França, na Bélgica, Holanda e Dinamarca. Já na década de 70, passou ainda uma temporada em Angola. Os Passos em Volta, livro de contos publicado pela primeira vez em 1963, reflectem a vida de andarilho de Herberto Helder. Em 1964 co-organizou e colaborou no n.º 1 de Poesia Experimental. No ano seguinte iniciou grupoterapia. Em 1968 participou como actor no filme As Deambulações do Mensageiro Alado, de Edgar Gonçalves Preto e gravou dois discos de poemas seus. Em 1973, depois de uma condenação a pena suspensa, de um acidente de viação e de Uma Ida ao Campo (reportagem de um Benfica-Sporting), publicou os dois volumes antológicos (1953-66 e 1963-71) de Poesia Toda (Plátano). Já no final da década de 70, foi editado Photomaton & Vox na Assírio & Alvim, editora que passará a publicar toda a sua obra. Em 1993 subscreveu um pedido colectivo no sentido de ser atribuído um subsídio mensal ao poeta António Gancho, há 26 anos internado no hospital psiquiátrico do telhal. No ano seguinte recusou o Prémio Fernando Pessoa, atribuído pela edição da obra Do Mundo.

1 Comments:

At 10:53 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Herberto Hélder, GRANDE,Grande, grande e por aí acima... agora preciso de um telescópio...olha, afinal, este, também é bem pequenino...contudo nem todos o alcança com as mãos...a não ser com o telescópio nas mãos, vá lá.

 

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