O arenque fumado
Era um grande muro branco - nu, nu, nu,
Posta no muro uma escada - alta, alta, alta,
No chão, um arenque fumado - seco, seco, seco.
Ele chega, trazendo nas mãos - porcas, porcas, porcas,
Um martelo pesado, um prego - bicudo, bicudo, bicudo,
Um novelo de fio - grosso, grosso, grosso.
Subindo então à escada - alta, alta, alta,
Espeta o prego bicudo - toque, toque, toque,
Ao alto do muro branco - nu, nu, nu.
Deixa fugir o martelo - que cai, que cai, que cai,
ao prego amarra a corda - longa, longa, longa,
E à ponta o arenque fumado - seco, seco, seco.
Volta a descer a escada - alta, alta, alta,
Leva-a, e ao martelo - pesado, pesado, pesado,
E lá se afasta para - longe, longe, longe.
Então o arenque fumado - seco, seco, seco,
Na ponta da corda - longa, longa, longa,
Balança devagarinho - sempre, sempre, sempre.
E eu inventei esta história - banal, banal, banal,
Para enfurecer as pessoas - graves, graves, graves,
E divertir as criancinhas - pequenas, pequenas, pequenas.
Tradução de Aníbal Fernandes.
Charles Cros, poeta e cientista francês, nasceu em Fabrezan no dia 1 de Outubro de 1842. Poeta de um humor e de uma ironia incomparáveis, foi também um inventor de méritos reconhecidos. Desenvolveu alguns métodos de fotografia, aperfeiçoou a tecnologia telegráfica e esteve perto de ficar para a história como o inventor do fonógrafo. Cros faleceu em Paris, no ano de 1888, onde levou uma vida de boémia relacionando-se com outros poetas como, por exemplo, Verlaine. Publicou os seus primeiros poemas em 1869 na revista L'Artiste. Foi, entre outras coisas, redactor e editor de La Revue du monde nouveau. À altura da sua morte, grande parte da sua obra estada inédita. Só mais tarde, Robert Desnos e Aragon lhe renderam homenagem. Assim como Breton, que o incluiu na sua Antologia do Humor Negro.
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