27.2.06

MASHA RASPUTINA

Tinha 22 anos, tu 28: mentias. De transiberiano me levei e a uma vodka barata – todo o sonho que podia suportar. Há noites de prodígios onde a música. Lera Rimbaud e queimar o corpo e os ventos eram agudos e incensava os mortos com poemas que o comboio devorava com seus colhões de ferro a roçar a estepe (ou isso ou a breve alucinação de fim de dia?) Às vezes havia tristeza nos meus dedos porque nunca fui daqueles que esqueciam a cidade do mundo. A terra magoava, no fundo apetecia-me cuspir, soltar as garras, obrigar os Donos a olharem-me de frente ou a ressuscitar. É para ti que falo o que não digo é para ti. Canta, fúria, as imagens soletradas na madeira- o cofre das mãos unindo a boca. A cama toda desfeita. Odessa- disseste. Rússia: um animal branco que vimos da gaiola. O teu país. Dia: o nosso pequeno comunismo. Amor não tem medo na garganta. A janela, vazia. Eu chorando convulsivamente no regresso.

Rui Costa