Chuva
Não a que cai do céu e afaga os vidros. Não a que fecunda a terra, deixando no ar um cheiro insuportavelmente aprazível. Mas esta onde me vejo estampado, sentado num sofá bafiento, ameaçadora, num ecrã de televisão. Esta é a chuva que mais nos limpa. Em sua honra deveríamos cantar, escrever longas litanias, hinos, poemas épicos e versos proverbiais. Em honra desta chuva e não da outra que nos obrigou a ficar em casa a olharmo-nos estampados num ecrã chuvoso de televisão: bafientos, ameaçadores, mortiços.
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