Uma pérola do tratamento jornalístico
Vem no Público de hoje, assinada por Joana Ferreira da Costa:
«As autoridades de saúde, juntamente com um grupo de peritos, fizeram um levantamento dos portugueses considerados essenciais para “manter o tecido social a funcionar” durante a fase mais aguda da eventual (mas considerada inevitável) pandemia provocada por um novo vírus da gripe.»
A propósito destes desenvolvimentos sobre a eventual (mas considerada inevitável) pandemia da gripe, também eu me abalancei em indagações sobre quais os cem mil portugueses mais essenciais que os restantes. Mas depois considerei que o verdadeiro tema não é esse. O verdadeiro tema é a «manutenção do funcionamento do tecido social». Quem é que quererá manter uma coisa destas? Vocês já repararam bem na contradição, no paradoxo que se avizinha! A gente vai ter de escolher cem mil portugueses eventuais (mas considerados inevitáveis) para a manutenção do que, julgo eu, mais queríamos fazer desaparecer: o actual funcionamento do denominado tecido social. Sem pretender parecer cínico, fui mais uma vez servir-me dos ensinamentos do grande Albino Forjaz Sampaio. Segundo tão dota inteligência, como sabeis, «para triunfar, é preciso ser mau, muito mau.» É preciso ser cínico, hipócrita, egoísta, raivoso, desonesto, canalha, crápula, vil, patife e todas as demais qualidades facilmente reconhecíveis num português eventualmente (mas considerado inevitável) fundamental. Onde estarão esses nossos cem mil portugueses? Onde param eles? Dir-me-ão, os mais cínicos que eu, que disso é o que para aí não falta. Pois bem: só essa, mais nenhuma, é a verdadeira dificuldade com que nos deparamos. Tal como o mister Scolari tem demonstrado dificuldades na formação da nossa selecção de futebol, dada a proliferação de talentos da bola em território nacional, prevejo eu iguais dificuldades na selecção futura de cem mil canalhas eventuais (mas considerados inevitáveis) para a manutenção do funcionamento do nosso querido tecido social. Maus tempos se avizinham, pois, caros (con)cidadãos. Eu, se fosse vossas excelências, começaria quanto antes a confeccionar a mais variada indumentária com o tecido que, tudo leva a crer, só estará disponível, dentro em breve, para cem mil eventuais (mas considerados inevitáveis) ilustres portugueses.
«As autoridades de saúde, juntamente com um grupo de peritos, fizeram um levantamento dos portugueses considerados essenciais para “manter o tecido social a funcionar” durante a fase mais aguda da eventual (mas considerada inevitável) pandemia provocada por um novo vírus da gripe.»
A propósito destes desenvolvimentos sobre a eventual (mas considerada inevitável) pandemia da gripe, também eu me abalancei em indagações sobre quais os cem mil portugueses mais essenciais que os restantes. Mas depois considerei que o verdadeiro tema não é esse. O verdadeiro tema é a «manutenção do funcionamento do tecido social». Quem é que quererá manter uma coisa destas? Vocês já repararam bem na contradição, no paradoxo que se avizinha! A gente vai ter de escolher cem mil portugueses eventuais (mas considerados inevitáveis) para a manutenção do que, julgo eu, mais queríamos fazer desaparecer: o actual funcionamento do denominado tecido social. Sem pretender parecer cínico, fui mais uma vez servir-me dos ensinamentos do grande Albino Forjaz Sampaio. Segundo tão dota inteligência, como sabeis, «para triunfar, é preciso ser mau, muito mau.» É preciso ser cínico, hipócrita, egoísta, raivoso, desonesto, canalha, crápula, vil, patife e todas as demais qualidades facilmente reconhecíveis num português eventualmente (mas considerado inevitável) fundamental. Onde estarão esses nossos cem mil portugueses? Onde param eles? Dir-me-ão, os mais cínicos que eu, que disso é o que para aí não falta. Pois bem: só essa, mais nenhuma, é a verdadeira dificuldade com que nos deparamos. Tal como o mister Scolari tem demonstrado dificuldades na formação da nossa selecção de futebol, dada a proliferação de talentos da bola em território nacional, prevejo eu iguais dificuldades na selecção futura de cem mil canalhas eventuais (mas considerados inevitáveis) para a manutenção do funcionamento do nosso querido tecido social. Maus tempos se avizinham, pois, caros (con)cidadãos. Eu, se fosse vossas excelências, começaria quanto antes a confeccionar a mais variada indumentária com o tecido que, tudo leva a crer, só estará disponível, dentro em breve, para cem mil eventuais (mas considerados inevitáveis) ilustres portugueses.
3 Comments:
eh eh eh
Stela
A história rectificará certamente,pela mão dos seus revisionistas de serviço. Mas julgo que é hora de lutar contra essa coisa errada e irracional chamada estado. Não só o social, o dito providência, mas todo ele. Hora de investir nos lugares, vilas e comunidades locais de pessoas que efectivamente se conhecem. Hora de desprezar os homens e mulheres bidimensionais e plásticos que, em essência, não existem nem nunca existiram. Hora de juntar as múltiplas identidades humanas numa identidade global feita de proximidades e do calor humano dos homens e mulheres que efectivamente se relacionam. Merda pois para o ciberespaço. Merda pois para os satélites e as demais invenções de uma modernidade escravizante. Em muitos séculos que virão, esta pode ser a última oportunidade para nos afirmarmos autenticamente, como seres vivos herdeiros de uma história sem paralelo conhecido em todo o universo.
Pois, o antigamente, dos analfabetos a irem para trolhas e sopeiras é que era bom!
Havia muita rapariguinha que vinha sopeirar dos campos para a cidade, com 10 e 11 anos, nos anos 40, 50, 60 e era "empistolada" pelo patrão pelos filhos varões.
Os aprendizes de qualquer arte (trolha, marceneiro, canalizador, modista, alfaiate) iam de graça "aprender a arte" e levavam pancada dos "mestres" e "mestras". E muitas vezes esfregar-lhe a casa e tratar do quintal. Só que nessa altura ninguém falava de pedofilia...nem de trabalho infantil.
Portanto, deixem-se de loas às comunidades sem Estados fortes, laicos e democráticos. Aliás, quem nunca saiu desta choldra (cf. Eça) e não viveu em países civilizados e organizados, onde se sabe, que a rua interessa a todos e não é o vazadouro das escarretas e do cócó do cão, é melhor deixar-se de jaculatórias...
Nos anos 60 começou a emigração "a salto" para França, tal era a fome e a falta de tudo...SOBRETUDO DE INFORMAÇÃO GLOBAL E CONSCIÊNCIA CULTURAL E CRÍTICA; que é o que a pirosidade mental portuga não pratica.
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