E depois de muito reflectir
Chegou à conclusão que de Agustina Bessa Luís tinha lido, muito esforçadamente, um único livro: O Manto. De António Lobo Antunes tentara ler, mas não conseguira, Explicação dos Pássaros e O Manual dos Inquisidores. De José Saramago havia lido meia dúzia de romances e ficara a meio de outros dois. Se bem se recordava, tirara algum gozo da leitura do Ensaio sobre a Cegueira. Um bom romance, por certo, não fora o caso de Albert Camus haver escrito A Peste. Saramago, Agustina e Lobo Antunes. Se excluirmos os mortos, é esta a santíssima trindade da ficção portuguesa contemporânea. Prefiro Mário Zambujal.
16 Comments:
Quem tem medo de não ler os cânones? Agustina é, na maior parte das vezes, profundamente entediante. Lobo Antunes é, na maior parte dos livros, obsessivamente repetitivo nos temas - e isto não é uma qualidade. Saramago desenvolveu, nas últimas obras, uma fixação por temas quase universais, que outros antes dele já trataram de forma infinitamente mais interessante. É a literatura que temos. Alguém os belisca?
Pois é, Sérgio Lavos. E o problema está em que antes dos nossos canonizados há um sem-fim de clássicos bem mais interessantes à espera de serem lidos.
sinceramente, também não tenho muita paciência para a Agustina... do Saramago há dois livros que quero ler (sem urgência)...quanto ao Lobo Antunes é uma outra história... mas é como dizes, muitos clássicos interessantes em lista de espera... abraço
Da Agustina tentei ler o Vale Abraão e não consegui; do Saramago li com interesse quatro romances; Lobo Antunes: confesso que os últimos livros (ele prefere livros a romances) não me excitam muito, no entanto, o Memória de Elefante, Conehcimento do Inferno, Fado Alexandrino, são, quanto a mim, excepcionais. Mas mesmo assim, ainda prefiro o Vergílio Ferreira.
O Lobo Antunes, na minha modesta opinião, tem muito do melhor que se fez no romance português dos últimos trinta anos. E a Maria Velho da Costa? Na minha modesta opinião, só ela o supera.
Pois eu não li nenhum desses e não gostei.
Vítor Leal Barros: O meu problema é mesmo esse, muitos clássicos em lista de espera. Já agora, qual é o Lobo Antunes que me aconselhas?
md: Acha que algum desses do Lobo Antunes pode ser preferível a, por exemplo, Os Maias?
dama: Falemos só da santíssima trindade. Maria Velho da Costa, felizmente, ainda não foi canonizada. As perguntas anteriores referentes a Lobo Antunes podem também ser para ti.
clandestino: E é bem provável que tenhas razões para tal.
Sobre Lobo Antunes: sim, "O Esplendor de Portugal" e, com todos os seus defeitos, percalços, alongamentos, etc., "Fado Alexandrino".
Em relação aos Maias... não tenho lá uma muito boa relação com Eça, pois fui obrigado a ler os Maias quando andava no 11º ano, e tal não me excitou muito (tal exemplo também serve para as Viagens na minha Terra e Amor de Perdição). Comecei há pouco tempo a ler a Ilustre Casa de Ramirez, e, sinceramente, não me está a entusiasmar, mas vou dar-lhe o benefício da dúvida. Mesmo assim, ainda prefiro o Vergílio Ferreira.
Dama: Ok, vou procurar esse Esplendor de Portugal. :)
FGS: Eu também tenho cá as minhas dúvidas. A ver vamos…
MD: Vergílio Ferreira é dos meus escritores portugueses preferidos. Pena que antes dele tenha lido Sartre, Camus e demais existencialistas. Ainda assim, é dos que mais me agrada ler.
Mas eu estava a falar dos vivos, ainda que posteriormente tenha dado um exemplo dos vivos em comparação com os mortos. A pergunta fundamental é esta: valerá a pena perdermos tempo com a nossa santíssima trindade dos vivos, antes de lermos os santos e os excomungados do passado?
Apesar de só ter lido a Crónica dos Bons Malandros, do Mario Zambujal, surpreende-me a comparação.
Na minha insignificante opinião, o Lobo Antunes há muito merece o Nobel
caro hmbf:
Um dia Vergílio Ferreira, num dos seus Conta-Corrente, escreveu que um editor estrangeiro o tinha recusado dizendo que «pequenos Sartres temos nós cá pelos cantos da rua».
Vergílio ferreira foi, sem dúvida, influenciado pelos existencialistas franceses (Lobo Antunes chegou a dizer que ele escrevia em francês com sotaque da Beira); mas também por um Eça, Raul Brandão (que deviamos ler antes da santíssima trindade dos vivos: Húmus é uma obra fabulosa), Kafka, Dostoievsky, entre outros. Mas, no entanto, consigo ler muito bem Vergílio Ferreira apesar de também já ter lido Camus e Sartre, pois encontro nele uma voz própria, apesar dos temas serem queridos à família existencialista.
E sim, acho que devemos perder tempo com os vivos (não só com a santíssima trindade): José Luís Peixoto, que sofre devido a tanta publicidade, Manuel da Silva Ramos, que poderá ser um dos mais originais escritores portugueses, Pedro Paixão (e porque não?), Filipa Melo (Este é o Meu Corpo é um livro muito bom), Lídia Jorge, Teolinda Gersão, entre outros.
E dos mortos: José Cardoso Pires.
MD:
Totalmente de acordo no que respeita a Raul Brandão, assim como no que concerne a Vergílio Ferreira. Cá para baixo é que a porca troce o rabo…
Para mim, há vivos, que não necessariamente os que aponta, a merecerem mais atenção que a santíssima trindade. Dos mais novos, prefiro a escrita de Manuel Jorge Marmelo. «Novas do Achamento do Inferno», de Fernando José Rodrigues, é um livro fascinante. Mas não me lembro de ter lido grande coisa acerca desse livro… Agora anda toda a gente muito ocupada com a prosa de Rodrigo Guedes Carvalho. Eu, enquanto não ler todos os livros de Mário de Carvalho não pegarei em nenhum do Rodrigo Guedes. Quanto a Pedro Paixão, diz muito bem «e por que não?»
Estas férias vou ver se consigo ler estes três: «o nosso reino», de valter hugo mãe, «Jerusalém», de Gonçalo M. Tavares, e «Cinco Contos sobre Fracasso e Sucesso», de Alexandre Andrade. São livros ainda fresquinhos. Como vê, nada me move contra “os vivos”… Só me irritam os santos. :)
Saúde,
hmfb: pois olha que o Lobo Antunes casa com o Faulkner, que é o autor que aparece mais pela minha modesta casa. A propósito, boa Páscoa.
dama: Já ouvi o Lobo Antunes, em conferência hilariante aqui na terrinha, dizer de sua justiça a propósito desse casamento. Eu é que nunca consegui entender onde. Defeito meu. Boa Páscoa também para ti.
Tem toda a razão .Precipitei-me no comentário e tomei a preferência por comparação
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