Um calo nos olhos, uma ferida no coração*

São mais as fotografias do que as obras, muito mais a ementa e os acepipes que o prato principal. Para aí uma vintena e meia de quadros, repartidos por quatro salas atafulhadas de gente. O pior é que esta gente rima demasiado com frente e indiferente. É gente que se atravessa à frente dos nossos olhos, gente indiferente a quem olha com a pausa possível as parcas obras ali disponíveis de um acervo que também não foi por aí além.
Há qualquer coisa na pintura de Frida Kahlo que me obriga a arrumá-la no caderno dos artistas cuja vida parece interessar-me mais que a obra. Eu fui ao CCB com a intenção de entrar na obra. Saí da exposição sem saber bem onde tinha estado. Se mais na vida, se mais na obra.
O Diário de Frida é projectado numa das paredes. Talvez o sentido desta exposição se possa resumir a este gesto: uma reconstrução fragmentada do diário de Frida. Deste modo, andamos pelas salas como quem se passeia dentro das páginas de um diário. Só não sei é se isso me agrada muito…
*Este título, completamente aparvalhado, surgiu-me depois de ter ouvido alguém comentar que os quadros de Frida Kahlo «sangram por todos os lados».
6 Comments:
Tem piada, o título pareceu-me tudo menos aparvalhado.
Obrigado pelos comentários.
Eu confesso-me... já me perdi naquela lengalenga do ovo e da galinha. Não me lembro se parei pela primeira vez no quadro ou na vida da Frida K.. Sei que parei... e isso é motivo para voltar a ver os seus quadros. Prometo esticar o pé e fazer tropeçar os penteadores de cabelo e os investigadores de nariz que encontrar!... em tua honra!;)
Se ficaste com um calo nos olhos é muito aborrecido mas se ficaste com uma ferida no coração é porque a Frida te tocou onde tinha que tocar-te.
Há muito tempo não passava por aqui. Fui correndo os teus posts e revejo-me neste. Também fui ao CCB ver a exposição. De facto, as condições são péssimas. Luz mal dirigida, com os tais vidros a reflectirem a nossa imagem, entre outras coisas que se poderiam apontar.
Por outro lado, se atendermos ao facto de que a obra de Frida está muito dispersa e este conjunto ser o acervo de um museu que irá deixar de emprestar a colecção para que o povo mexicano o possa apreciar, temos de nos sentir privilegiados por lhe termos tido acesso.
Quanto aos "espectadores" deste tipo de mostras "badaladas", são o que devemos esperar. Quando não existe uma educação para a arte, o que se pode exigir?
Um abraço
Kaku: Se fizeres isso por mim, que não farei eu por ti?
anonymous: És capaz de ter razão…
O’Sanji: Obrigado pela visita. Quando não existe uma educação para a arte, acho que podemos exigir, pura e simplesmente, boa educação. O que se resume, por exemplo, a respeitarmos o espaço uns dos outros.
Saúde a todos,
Enviar um comentário
<< Home