30.11.06

Insectos, percevejos e literatura erótica

A maioria da literatura erótica que vou espreitando entedia-me, não chega sequer a ser erótica, pelo menos para mim, na medida em que a única coisa que me provoca é aquela atenção de quem espera por algo que sabe jamais poder vir a acontecer. Isto porque à partida toda a literatura erótica actual é já uma chegada, ou seja, vive do óbvio, da ausência de mistério, de mostrar tudo como se mostrando tudo desse ares de uma libertinagem e de uma pseudo-modernidade que mais não é do que uma forma tremendamente preconceituosa de viver o sexo. Isto deve ter que ver com modos de olhar as coisas, não sei, mas para mim um bom par de mamas só o é se estiver ligeiramente disfarçado. Um par de mamas manifesto não passa de mais um par de mamas, mas um par de mamas onde, vá lá, o mamilo apenas se insinue pode ser um tremendo par de mamas. Há tempos tive essa experiência num concerto, ao olhar a saliência de uns mamilos entesados debaixo da blusa da cantora que então actuava. Fiquei a pensar naquilo, no prazer provocado pela imagem, pela imaginação de uns mamilos escondidos, oprimidos, investindo contra o tecido, como que a quererem romper dali para fora… O que quero dizer é que onde falta a imaginação faltará também o erotismo. Daí que a “literatura erótica actual” me entedie, falta-lhe a imaginação. A gente percorre meia dúzia de sítios pornográficos e está lá tudo, de forma bem mais escancarada, o que a literatura erótica actual pretende ser e não consegue. Deixo-vos, a título de exemplo, dois parágrafos de Bukowski que são exemplificativos de como insectos e percevejos podem fazer o que 1001 descrições doidivanas de posições improváveis e preliminares disparatados não conseguem:

«Voltei ao quarto. Mindy estava quente, o seu corpo estava quente. Parecia estar a dormir. Eu gostava daquilo. Rocei docemente os meus lábios contra os dela. O meu caralho levantou-se. Senti os seus seios contra mim. Agarrei num e chupei-o. Senti o mamilo endurecer. Mindy mexeu-se. Desci até ao ventre e depois até à cona. Comecei a esfregá-la, lentamente.
Era como estar a abrir um botão de rosa, pensei. Isto faz sentido. É óptimo. Como dois insectos num jardim que se aproximam lentamente um do outro. O macho faz a sua lenta magia. A fêmea abre-se lentamente. Gosto disto, gosto disto. Depois percevejos. Mindy abre-se, começa a ficar molhada. ela é bonita. Depois montei-a. Com a minha na sua boca, enfiei-lha»
(Mulheres, p. 79).

2 Comments:

At 11:00 da tarde, Blogger amok_she said...

..neste nosso mundinho/vidinha de usar e deitar fora já não há lugar para o erótico, em contrapartida tudo se torna pornográfico...e não só no sexo... lamentavelmente!

 
At 10:24 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Rui Lage, o Eurico A. Cebolo é um must!

Amok, lá isso é.

 

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