EU NÃO QUERIA ENGANAR-ME
Eu não queria enganar-me, porém
Trago uma ansiedade no coração confuso.
Porque é que eu passo por ser um charlatão,
Porque é que eu passo por ser um escandaloso?
Nem biltre fui nem ladrão de estrada,
Nem fuzilei inocentes na prisão.
Sou apenas um pobre boémio
Que sorri a todos os que encontra.
Eu sou um moscovita folgazão e vadio.
Por todo o bairro de Tverskoi
Pelas ruelas todos os cães
Conhecem o meu andar ligeiro.
Todos os cavalos roídos
Baixam a cabeça quando me encontram.
Sou um bom amigo dos animais,
Cada verso meu cura-lhes a alma.
Vou de chapéu alto mas não para as mulheres,
Não bate forte o meu coração por tormentos tolos –
Para acalmar a sua tristeza ele prefere
Dar às éguas o oiro das searas.
Entre os homens amizades não tenho,
E resigno-me a um reino diferente.
Estou pronto a pôr a minha melhor gravata
Ao pescoço de qualquer vadio.
Agora já não quero sofrer mais.
É tempo de lavar o coração confuso.
E é por isso que passo por charlatão,
E é por isso que passo por escandaloso.
Tradução de Manuel de Seabra.
Trago uma ansiedade no coração confuso.
Porque é que eu passo por ser um charlatão,
Porque é que eu passo por ser um escandaloso?
Nem biltre fui nem ladrão de estrada,
Nem fuzilei inocentes na prisão.
Sou apenas um pobre boémio
Que sorri a todos os que encontra.
Eu sou um moscovita folgazão e vadio.
Por todo o bairro de Tverskoi
Pelas ruelas todos os cães
Conhecem o meu andar ligeiro.
Todos os cavalos roídos
Baixam a cabeça quando me encontram.
Sou um bom amigo dos animais,
Cada verso meu cura-lhes a alma.
Vou de chapéu alto mas não para as mulheres,
Não bate forte o meu coração por tormentos tolos –
Para acalmar a sua tristeza ele prefere
Dar às éguas o oiro das searas.
Entre os homens amizades não tenho,
E resigno-me a um reino diferente.
Estou pronto a pôr a minha melhor gravata
Ao pescoço de qualquer vadio.
Agora já não quero sofrer mais.
É tempo de lavar o coração confuso.
E é por isso que passo por charlatão,
E é por isso que passo por escandaloso.
Tradução de Manuel de Seabra.
Sergei Yesenin nasceu no dia 3 de Outubro de 1895 em Konstantinovo (hoje Yesenino). Em 1912 mudou-se para Moscovo, onde trabalhou como tipógrafo ao mesmo tempo que estudava. Três anos depois mudou-se para São Petersburgo, tornando-se amigo de Alexander Blok. Apesar de ter começado a escrever poesia muito antes, o seu primeiro livro surgiu em 1916 com o título Padúnitsa. Rapidamente granjeou grande popularidade. Casou cinco vezes num curto período de tempo. O seu primeiro filho morreu em 1937 num campo de concentração russo. Em 1921 conheceu Isadora Duncan, com quem veio a casar um ano depois. Cada vez mais dependente do álcool, Yesenin caiu nas teias de uma vida desregrada que culminou com um esgotamento nervoso e, posteriormente, com o suicídio a 28 de Dezembro de 1925.
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