15.1.07

Qual a cor do teu coração?


Uma vez perguntaram-me sobre a minha tribo. Sou da tribo do Brito: serve copos no Charrua, fuma cigarrilhas, tem olheiras fundas, dá-nos som de categoria. Nunca lhe escutei uma palavra, nem preciso. Por isso mesmo sou da sua tribo. Mingus, nascido pouco preto e não branco o suficiente, teve azares que eu não tive. Às vezes penso em Charles Mingus, rejeitado logo à partida por não ter a cor de pele certa. Penso nele, na ambivalência que sentia perante o mestre Satchmo: admirando-lhe o talento, censurando-lhe a postura de «palhaço perante um público de brancos». Teve uma vida danada, este Mingus. Era uma personalidade danada, (de)feito pelas circunstâncias. Acabou refugiado, obeso, despercebido, doente. Às vezes chega-se-me de mansinho e pergunta-me: «Qual a cor do teu coração?» Respondo-lhe sempre o mesmo: pouco preto e não branco o suficiente.