O POETA, AO POETA
E tinha de ser eu,
um ser ausente a tudo,
um enviado da terra,
reduzido a cansaço,
quem apenas diria
o que fora ditado,
posto só no escuro,
pelo céu ou o acaso.
Entre a sombra e o lume
de seu tempo desfeito,
voltaria de mim
para a espera, que anulo,
deste deus que não fui
no menino, que, preso
nos seus gestos de então,
recompõe no mais puro
exílio, toda a febre,
a carne que lhe deram,
a palavra e o choro,
as sobras do infinito,
o seu sonho partido
entre o dormir e o medo.
Eram belas as vozes
de que fui o segredo
e que ouvi, longe em mim,
a contar-me o que cedo
ao órfão, ao desditoso,
ao coberto de fezes
- alguém que vai profundo,
sendo êxtase e beijo,
no corpo que me serve,
e me vê no que vejo.
um ser ausente a tudo,
um enviado da terra,
reduzido a cansaço,
quem apenas diria
o que fora ditado,
posto só no escuro,
pelo céu ou o acaso.
Entre a sombra e o lume
de seu tempo desfeito,
voltaria de mim
para a espera, que anulo,
deste deus que não fui
no menino, que, preso
nos seus gestos de então,
recompõe no mais puro
exílio, toda a febre,
a carne que lhe deram,
a palavra e o choro,
as sobras do infinito,
o seu sonho partido
entre o dormir e o medo.
Eram belas as vozes
de que fui o segredo
e que ouvi, longe em mim,
a contar-me o que cedo
ao órfão, ao desditoso,
ao coberto de fezes
- alguém que vai profundo,
sendo êxtase e beijo,
no corpo que me serve,
e me vê no que vejo.
Alberto da Costa e Silva nasceu em São Paulo a 12 de Maio de 1931. Filho do poeta Antônio Francisco da Costa e Silva, é diplomata de carreira. Foi embaixador na Nigéria, no Benim, em Portugal, na Colômbia e no Paraguai. Começou por publicar em edições de autor na década de 50. Uma das suas primeiras obras foi O parque e outros poemas. Em 1978 recebeu o Prémio do Pen Club do Brasil, atribuído ao livro As linhas da mão. Também lhe foi atribuído, em 1997, o Prémio Jabuti, pela obra Ao lado de Vera. Além de poesia, tem obra publicada nas áreas da história e do ensaio literário.
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