ANTIMUNDOS
O nosso vizinho Bukáchkin
Usa ceroulas cor de mata-borrão.
Mas brilhantes Antimundos
Flutuam sobre ele como um balão!
E nele vive, por magia,
Domando o mundo como um demónio,
Anti-Bukáchki, o académico,
Tendo nos braços Lollobrígidas.
Mas os sonhos de Anti-Bukáchki
Parecem cor de mata-borrão.
Vivam, pois, os Antimundos!
Fantasias no meio do lixo.
Sem estupidez não havia esperteza,
Nem havia oásis sem desertos.
Não há mulheres – só anti-homens.
Nas florestas rugem antimáquinas.
Há o sal da terra e também o lixo.
Que seria do falcão sem a serpente?
E como amo os críticos meus!
Na calva de um deles,
Perfumada e lisa,
Brilha uma anticabeça!...
Eu durmo com as janelas bem abertas,
E em qualquer parte acena-me uma estrela cadente,
E um arranha-céus como uma estalactite
Do outro lado do globo está pendente.
E sob mim de pernas para o ar,
Espetado como um garfo neste globo,
Despreocupado como um insecto,
Vives tu, meu antimundo!
Mas para quê no meio da noite
Se encontram os antimundos?
Para que é que se sentam juntos
A ver televisão?
Não trocam palavra e esse encontro
É o primeiro e não há outro, não.
Estão sentados, esquecendo o bon ton,
Como se hão-de sentir depois envergonhados!
Hão-de ficar de orelhas encarnadas
Como duas grandes borboletas pousadas…
Um conferencista meu amigo ontem
Disse-me: ‘Antimundos, para quê?’
E eu fico com o sono agitado
Pela verdade científica das coisas…
O meu gato, como um aparelho de rádio,
Com os seus olhos verdes sintoniza o mundo.
Tradução de Manuel de Seabra.
Usa ceroulas cor de mata-borrão.
Mas brilhantes Antimundos
Flutuam sobre ele como um balão!
E nele vive, por magia,
Domando o mundo como um demónio,
Anti-Bukáchki, o académico,
Tendo nos braços Lollobrígidas.
Mas os sonhos de Anti-Bukáchki
Parecem cor de mata-borrão.
Vivam, pois, os Antimundos!
Fantasias no meio do lixo.
Sem estupidez não havia esperteza,
Nem havia oásis sem desertos.
Não há mulheres – só anti-homens.
Nas florestas rugem antimáquinas.
Há o sal da terra e também o lixo.
Que seria do falcão sem a serpente?
E como amo os críticos meus!
Na calva de um deles,
Perfumada e lisa,
Brilha uma anticabeça!...
Eu durmo com as janelas bem abertas,
E em qualquer parte acena-me uma estrela cadente,
E um arranha-céus como uma estalactite
Do outro lado do globo está pendente.
E sob mim de pernas para o ar,
Espetado como um garfo neste globo,
Despreocupado como um insecto,
Vives tu, meu antimundo!
Mas para quê no meio da noite
Se encontram os antimundos?
Para que é que se sentam juntos
A ver televisão?
Não trocam palavra e esse encontro
É o primeiro e não há outro, não.
Estão sentados, esquecendo o bon ton,
Como se hão-de sentir depois envergonhados!
Hão-de ficar de orelhas encarnadas
Como duas grandes borboletas pousadas…
Um conferencista meu amigo ontem
Disse-me: ‘Antimundos, para quê?’
E eu fico com o sono agitado
Pela verdade científica das coisas…
O meu gato, como um aparelho de rádio,
Com os seus olhos verdes sintoniza o mundo.
Tradução de Manuel de Seabra.
Andrey Voznesensky nasceu em Moscovo no dia 12 de Maio de 1933. Formado em arquitectura, publicou os seus primeiros poemas em 1958. Em 1960 apareceram as suas primeiras recolhas: Mosaico e Parábola. É um dos poetas soviéticos mais conhecidos no estrangeiro, elogiado por Robert Lowell, adorado pelas massas durante performances realizadas em salas de espectáculo e universidades, mas muito criticado por alguns conterrâneos que o criticaram de "formalista burguês". Membro de várias academias, recebeu em 1978 o maior prémio de poesia da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
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