29.9.07

CAVALHEIROS

Este filme pornográfico, de conas e marsápios condescendentes, começa a raiar a sequela derradeira, aquela em que assim sentados na plateia nos vem logo à narina o cheiro pútrido dos casebres à beira estrada. É um cheiro espesso, enfia-se-nos pelas narinas e bate-nos no pulmão como uma pedra atirada contra a tijoleira no fundo de um poço. Gera-se um eco estranho, sobe à garganta, embucha-nos, pede para ser arrotado. E nós arrotamos o eco como quem raspa gritos na pedra, como quem ateia uivos, parte os dentes, morde a língua. Este filme pornográfico já leva muitas horas, muitos anos, muitas décadas. As putas ora reclinadas junto à sombra dos proxenetas, só mudaram a maquilhagem, passaram algum detergente pela pele, não fossem ficar declaradamente manchadas aos olhos de quem manda. Como pudemos nós, imenso rumor, continuar sentados na plateia a assistir a um filme destes sem nada fazer? Como podemos nós permanecer ofuscados pela sombra do sobreiro, enamorados pelo paleio das guitarras, dos passarinhos, das cigarras? Como podemos nós continuar no campo como se o campo fosse ainda um traço na paisagem?

2 Comments:

At 3:35 da tarde, Blogger paulo said...

Talvez vivamos na esperança de sermos chamados ao filme, numa versão, digamos, hard da Rosa Púrpura do Cairo. Nós não fazemos a história, quando muito replicamos os gestos dos que a fazem. Ou assistimos.

 
At 11:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É quase sempre assim, é. Nisso até não estamos em desacordo. Saúde,

 

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