24.9.07

HONNÊTE HOMME

Não estou bem recordado destas matérias, mas julgo que a distinção que Pascal fazia sobre o espírito de geometria e o espírito de «finesse» consistia em atribuir ao primeiro um carácter lógico e ao segundo uma natureza intuitiva. Nos diálogos interblogs pratica-se em demasia o segundo, eivado de uma ironia que sobeja no exibicionismo da palavra, do estilo, da graça. No fundo, a bloga lembra os salões da aristocracia francesa, pelo menos como vêm descritos nos livros e são representados nos filmes, com suas picardias retóricas e trocas de galhardetes humorísticos. Acontece que vivemos num país tão pequeno e tão sem jeito que também nestes picantes se nota a nossa falta de tempero. Bem vistas as coisas, somos todos um pouco do Julien que Stendhal descreveu em O Vermelho e o Negro: naturalmente sábios, “condenadamente” provincianos. Por isso as invejas, o ciúme, a calúnia, o culto da troça, o tal «tom de maledicência geral» e o «inferno de hipocrisia e de intrigas» em que estamos condenados a viver. Desses espirituosos de salão, retenho apenas a eloquência com que retratam o mundo e troçam dos outros enquanto, voltando a Pascal, «se vangloriam de saber a única coisa que não aprendem»: serem honnêtes hommes.

1 Comments:

At 9:16 da tarde, Blogger SV said...

Em abono da verdade, devo admitir que ocasionalmente o barrete também me serve. Pela positiva, pode ser que ainda haja esperança.

 

Enviar um comentário

<< Home