NA NOITE
Terás envelhecido, como eu, tua existência
será igual à minha, mais ou menos: monótonos
dias que vão passando bem lentamente, dias
em que nada acontece e é tudo igual pra nós.
Às vezes, porventura ainda lembres aquela
luz distante de Agosto que partilhamos. Talvez
sobre meu nome tenha crescido o esquecimento
e se apagasse em ti minha imagem para sempre.
Pergunto-me por vezes se em verdade fui jovem
e estive ali contigo, se existiu aquele Verão.
O sonho e a memória não são coisas diferentes:
não sei se te recordo ou se te estou sonhando.
O tempo debotou as certezas que tive.
A evidência de ontem com a idade esfuma-se.
Estou só. É de noite. Penso que minha vida,
minha própria vida, acaso, não aconteceu nunca.
Tradução de José Bento.
será igual à minha, mais ou menos: monótonos
dias que vão passando bem lentamente, dias
em que nada acontece e é tudo igual pra nós.
Às vezes, porventura ainda lembres aquela
luz distante de Agosto que partilhamos. Talvez
sobre meu nome tenha crescido o esquecimento
e se apagasse em ti minha imagem para sempre.
Pergunto-me por vezes se em verdade fui jovem
e estive ali contigo, se existiu aquele Verão.
O sonho e a memória não são coisas diferentes:
não sei se te recordo ou se te estou sonhando.
O tempo debotou as certezas que tive.
A evidência de ontem com a idade esfuma-se.
Estou só. É de noite. Penso que minha vida,
minha própria vida, acaso, não aconteceu nunca.
Tradução de José Bento.
Eloy Sánchez Rosillo nasceu em Múrcia, Espanha, no ano de 1948. Professor de literatura, deu-se a conhecer, como poeta, ao ganhar o Prémio Adonais, em 1977, com o livro Maneras de estar solo (1978). Além de poesia, publicou ensaios e traduziu Giacomo Leopardi. Colaborou com várias revistas literárias. O tradução que aqui publicamos saiu nos Cadernos Semestrais de Poesia – HÍFEN, n.º5, em Março de 1990.
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