UM POEMA PARA FIAMA
UM POEMA PARA FIAMA (Labirinto, 2007)
A MÚSICA
A música partilha com a flor
a carne que se alaga como um copo.
A música é um rizoma atómico
cheia de sílabas grossas e finas
no peito maduro da onda.
Por isso a onda cai e a flor
também. E se te digo sei que ficas
triste e é quando substituis essa
geração de força por dois pequenos
vasos à entrada do teu dorso (e qual
és tu e qual sou eu é uma haste subindo)
Do teu lado esquerdo é dia.
O vestido é branco e aponta
a cidade a que chegas com os
dedos, rodando os ombros mas
não a cabeça. O teu olhar
é uma ferida musical sem verbo fixo:
a penumbra bate às vezes na
pálpebra, outras na imaginação.
A queda gera o seu próprio
impulso, como se fosse o preen-
chimento de uma forma: chama-se amor
e serve para os ouvintes ouvirem o esbracejar
do desejo, esses versos de asa silenciosa-
ouves?
Há poetas azuis que julgam que a
coerência é um pardal azul (da goela
até aos pés). Normalmente limpam os óculos
com coerência, em vez de com (enfim)
e depois vêem o mesmo pardal, a todas
as horas do dia e da noite, sentado azul-
mente sobre o seu nariz azul.
Pela direita, dizes que os versos
não caem se mudares constantemente
o chão. Mas os sonhos sim, e que a transla-
ção do vento sabe do remorso dos bichos mais
pequenos: procura as palavras junto ao chão
e se não me vires,
é porque o silêncio é também a música
e canto-a sem nome
para ti
Rui Costa
10 Comments:
olha, rui, recebe um beijinho emocionado: é muito lindo este poema
Muito bonito Rui, se a Fiama lesse este poema certamente gostaria,mas não sei se ela está ligada à net.Mais uma vez é muito bonito este poema Rui,ofereceste-te à Fiama...
Um abraço
Joaquim
porra. muito bom.
brutal. uma homenagem merecedora da homenageada.
apetece dizer porra. e eu nunca digo porra. muito bom mesmo.
as metáforas... o raciocínio... esse lacinante modo de dizer... muito bom.
ana s.
Muito bom!
Maria João
É muito belo...obrigada por o partilhares.
sem dúvida, muito bom.
Deixo-te o som do meu comentário silencioso...
PB
Obrigado a todos pelos comentários.
Rui Costa
Fosca-se Rui ,eu não sabia que a Fiama já tinha morrido:perdão,
Mas continua a ser um poema muito bonito!
Abraço
Joaquim
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