O PANELEIRO
Digam, vá: o panasca. A sorte que ditou
a minha trajectória não ofende o percurso
da pura anatomia das minhas partes
altas. Volutas de ADN
murmúrios roucos do anoitecer da carne
- a mão e o dedo preparados
e a relação da boca em todas
as situações incontornadas - me sustentam.
Panasca é pois meu nome
- a exacta honra de no cu levar,
que não me quero gay ou pisaflores
e muito menos veado ou maricon. Panasca
- sagrado nome que aos pátrios sítios
me devolve em ternura
na galhardia duma história inteira
de enrabados heróis.
Conheço os continentes, sei em que ilhas
e em que planuras a moca se transforma
em rios mares de desejos e de amores
por trás da descoberta.
Conheço o doce e amargo de ser puta
de marinheiros soldados motoristas
( e de outros que não digo).
Pois panasca é que sou
até o fim da vida até ao fim do sonho.
E assim me ergo soberano
tão íntegro e sereno
fraterno entesoado
- ante vós que não ides p’ró caralho.
Nicolau Saião
6 Comments:
Já é o segundo poema aqui, ambos fabulosos. São antigos ou de uma fase nova?
De um leitor agradecido e arrependido.
Obrigado, mano. Não sei quem és mas não importa, não faz mal sermos fotos virtuais, palavras virtuais - o que importa é o sumo interior (mesmo se somos ou parecemos simulacros) que pode ser comum a duas mentes, dois percursos, duas vidas.
Aceita um abraço do
ns
Nota - São de algum tempo atrás, lá de 2005. Mas só agora vão sair em livro - e ainda por cima em África, o que aliás me agrada. O buque tem o nome de "O armário de Midas". Ah!, em tempo: arrependido porquê? Podes contar isso? Se não te dá jeito, tudo bem.
Este é do catano, estou curiosa em ler mais e espero por esse buque!
Maria João
Não sendo eu panasca, o poema é gozoso de se rebentar o cu. antes de chegar ao nome do autor, pensei em cesariny, o que não deslustra nada o mérito do autor. muito pelo contrário. Será que o livro vai sair em moçambique?
Não digo que não... Lá por essas regiões africanas, por minha fé.
E já agora: o Cesariny não fez, mas leu (que o poemito é mais exactamente de meados de 2004 e foi por essa altura que lho dei com outros). E naquela sua voz pausada e calma (que é como quem diz, que lá nela havia sempre muitas tempestades)chamou-me patife e deu-me carinhosamente uma espécie de murrozinho no trombil. Acho que foi o comentário mais adequado e gratificante, não achas?
És de Moçambique? Sabes que está lá agora um excelente poeta luso a leccionar no Maputo? E que tem um livro soberbo com sabor africano?Não abusando do hbmf, vou um dia destes dar para aqui uma coisa sublime dele, que tu verás certamente com encantamento.
ns
Não abusa nada.
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