2.1.08

ÓMEGA

Quando a morte acudir finalmente à minha súplica e seus avisos me tiverem preparado para a viagem solitária, invocarei um ser primaveril, com o fim de solicitar a assistência da harmonia de origem suprema, e um alívio infinito fará repousar o meu semblante.
As minhas relíquias, ocultas no seio da escuridão e animadas de uma vida informe, responderão do seu desterro ao magnetismo de uma voz inquieta, proferida num litoral despido.
A recordação eloquente, à semelhança de uma lua exígua sobre a vista de uma ave sonâmbula, perturbará o meu sono impessoal até à hora de me sumir, com o meu nome, no esquecimento solene.


Tradução de José Bento.

José Antonio Ramos Sucre

José Antonio Ramos Sucre nasceu em Cumaná, na Venezuela, a 9 de Junho de 1890. Estudou Direito e Literatura, assim como vários idiomas, alcançando o título de Doutor em Ciências Políticas em 1917. Dedicou-se à carreira política, tornando-se cônsul em Genebra. Publicou os primeiros textos em 1911, estando a sua obra literária sintetizada em cinco títulos: Trizas de papel (1921), Sobre las huellas de Humboldt (1923), La Torre de Timón (1925), Las formas del fuego (1919) e El cielo de esmalte (1929). Vítima de insónias intensas, esteve internado várias vezes. Faleceu no dia 13 de Junho de 1930.