INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #14
RATAZANA JOLI
Havia uma Hera com folhas de sangue
a crescer no muro, mesmo defronte
ao meu martírio. Não topando nada
arrastavas teus passos aziagos
e um sapato sujo com merda
e passos desconsolados.
Arrepanhaste a rede metálica
para eu passar rasteiro junto ao cheiro
nauseabundo da ratazana morta e
aos detritos espalhando pólens
infecciosos. Partilhámos um abraço
sem chama na sombra grande
e escura do gasómetro. O guarda
vigilante lia um gratuito da manhã,
sem atenção alguma aos perigos
ao seu redor e ao teu plástico beijo.
Os Taliban industriais atacam
as águas dos rios, dizimando tantos
seres como decretos, multas e
denúncias, que nascem e morrem
na permanente renovação do furto
para a vida abastada, destes terroristas
excêntricos de óculos de sol,
mercedes e Viti Levu no olho do...
Voltando a ti, pouco ou nada ficou
para além da meia-hora. Nem uma
gargalhada vazia entre os dedos.
Nunca mais me lembrei meu lindo,
a não ser quando topei uma ratazana
esborrachada no asfalto. Aí
lembrei-me de ti.
Imaginei-te sentado à mesa
em tua casa, a rata esperneando
no teu prato cuspido de palavras
de arrependimento por um dia
teres dito sim no altar.
Jorge Aguiar Oliveira
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