Um conto* de António Botto e uma foto de Robert ParkeHarrison
OS SETE SÁBIOS
– Para que servem vocês? - diziam irados os homens daquele povo, a sete sábios chamados a remediar os seus imensos infortúnios.
«Confiávamos na vossa ciência para arrumar os nossos obstáculos, e afinal, dão-nos palavras e palavras que não resolvem coisa alguma!
– Assim é – confessavam os sete sábios.
– Tivéssemos nós adivinhado que a vossa sabedoria é inútil.
– Muitas vezes é inútil – responderam todos ao mesmo tempo, uns cabisbaixos, outros de cabeça erguida.
Os que mostravam a cabeça bem levantada era de tanto olharem para as estrelas, como os que a mostravam caída era de tanto investigarem os mistérios insondáveis da terra.
A serenidade dos sete sábios irritava os homens daquele povo.
– E fomos nós buscá-los a terras longínquas, com todas as honras, levando camelos e burros, e aqui vos demos a melhor hospitalidade? A carne mais fresca, peixe vivo, boa fruta, para quê? Se a vossa sabedoria ainda é menos do que a nossa? Podeis partir, impostores!
Os sete sábios, em silêncio, começaram a afastar-se e alguns foram apedrejados.
Entre a multidão enfurecida um pobre idiota arrastava um pequeno cão morto, quase a decompor-se.
Então, o sábio mais velho, voltou-se para trás e disse:
– Quem matou esse animal?
Todos ficaram calados.
– Fui eu! Fui eu! - gritou o idiota abrindo a boca numa gargalhada sem timbre.
– Pois vejam nele o que podemos fazer se tentássemos ressuscitá-lo – replicou o sábio.
«A nossa vasta sabedoria poderia dizer-vos muitas coisas para os vossos males sem remédio, mas seria como tentar dar vida a esse cão morto.
E afastaram-se, fixando aquelas caras de pasmo, de ironia e de revolta.
*Selecção de Jorge Aguiar Oliveira
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