15.4.08

Um conto* de António Botto e uma foto de Robert ParkeHarrison



OS SETE SÁBIOS


– Para que servem vocês? - diziam irados os homens daquele povo, a sete sábios chamados a remediar os seus imensos infortúnios.

«Confiávamos na vossa ciência para arrumar os nossos obstáculos, e afinal, dão-nos palavras e palavras que não resolvem coisa alguma!

– Assim é – confessavam os sete sábios.

– Tivéssemos nós adivinhado que a vossa sabedoria é inútil.

– Muitas vezes é inútil – responderam todos ao mesmo tempo, uns cabisbaixos, outros de cabeça erguida.

Os que mostravam a cabeça bem levantada era de tanto olharem para as estrelas, como os que a mostravam caída era de tanto investigarem os mistérios insondáveis da terra.

A serenidade dos sete sábios irritava os homens daquele povo.

– E fomos nós buscá-los a terras longínquas, com todas as honras, levando camelos e burros, e aqui vos demos a melhor hospitalidade? A carne mais fresca, peixe vivo, boa fruta, para quê? Se a vossa sabedoria ainda é menos do que a nossa? Podeis partir, impostores!

Os sete sábios, em silêncio, começaram a afastar-se e alguns foram apedrejados.

Entre a multidão enfurecida um pobre idiota arrastava um pequeno cão morto, quase a decompor-se.

Então, o sábio mais velho, voltou-se para trás e disse:

– Quem matou esse animal?

Todos ficaram calados.

– Fui eu! Fui eu! - gritou o idiota abrindo a boca numa gargalhada sem timbre.

– Pois vejam nele o que podemos fazer se tentássemos ressuscitá-lo – replicou o sábio.

«A nossa vasta sabedoria poderia dizer-vos muitas coisas para os vossos males sem remédio, mas seria como tentar dar vida a esse cão morto.

E afastaram-se, fixando aquelas caras de pasmo, de ironia e de revolta.




*Selecção de Jorge Aguiar Oliveira