GANÂNCIA
«Antes de entrarmos na EU, produzíamos mais de metade do que comíamos, tínhamos ainda um mundo rural e agrícola e um país relativamente equilibrado entre o interior e o litoral, a província e as grandes cidades. Mais de duas décadas depois, o que vemos? Produzimos menos de um quarto daquilo que comemos; à força de subsídios, desmantelámos a frota pesqueira e deitámos fora toda uma cultura e saber que demora gerações infinitas a apurar, passando a importar todo o peixe que vem à mesa; gastámos fortunas a pagar aos agricultores para eles abandonarem os campos ou ficarem sentados a ver em que paravam as modas, sem investir, sem inovar, sem arriscar – até lhes demos uma barragem, a maior da Europa, para eles se distraírem a fazer regadio, já que diziam que as culturas de sequeiro não davam, mas, assim que se viram com a barragem feita, venderam as terras aos espanhóis, agarraram nas mais-valias que os contribuintes lhes tinham facultado e agora só querem regressar ao local do crime para fazer urbanizações turísticas à beira de Alqueva; de caminho, desmantelámos a fileira florestal tradicional, substituindo-a por um oceano de pinheiros e eucaliptos, contribuindo ainda mais para a desertificação e os incêndios de Verão, porque um ex-ministro, hoje muito bem na vida, declarou solenemente que “os eucaliptos são o nosso petróleo verde”; enfim, como resultado último de toda esta clarividência, gastámos os rios de dinheiros europeus que nos poderiam e deveriam ter garantido a solvabilidade e independência económica para sempre, a construir auto-estradas e duas megacidades onde as pontes e os terminais de transportes de toda a ordem nunca são suficientes para acolher o Portugal que fugiu do interior morto. Assim tornámos o país insustentável e não foi por falta de avisos nem por particular estupidez dos governantes. Foi, claramente, para servir os interesses particulares que vegetam perpetuamente à sombra do Estado, tornando impossível qualquer política que privilegie o interesse público».
A citação, longa mas inevitável, é do artigo de Miguel Sousa Tavares no Expresso de hoje. É difícil discordar deste diagnóstico, o qual vem sendo repetido, exaustivamente, nas ruas, nos cafés, nos debates, em entrevistas, etc… Mas podemos discordar da conclusão. Os interesses particulares a que se refere MST não vivem à sombra do Estado. Habitam, como uma espécie de vírus, o próprio Estado. A estupidez dos governantes só não pode ser apontada se, olhando mais atentamente, reconhecermos em tantos e tantos e tantos desses governantes os principais beneficiados com o chamado “estado a que isto chegou”. Não foram estúpidos, foram portugueses, ou seja, chico-espertos.
A citação, longa mas inevitável, é do artigo de Miguel Sousa Tavares no Expresso de hoje. É difícil discordar deste diagnóstico, o qual vem sendo repetido, exaustivamente, nas ruas, nos cafés, nos debates, em entrevistas, etc… Mas podemos discordar da conclusão. Os interesses particulares a que se refere MST não vivem à sombra do Estado. Habitam, como uma espécie de vírus, o próprio Estado. A estupidez dos governantes só não pode ser apontada se, olhando mais atentamente, reconhecermos em tantos e tantos e tantos desses governantes os principais beneficiados com o chamado “estado a que isto chegou”. Não foram estúpidos, foram portugueses, ou seja, chico-espertos.
4 Comments:
pergunta ao mst se for pelos interesses do pinto da costa, se ele se importa...
o impressionante de tudo isto é que passado estes mesmo vinte anos há mais acesso a bens de primeira necessidade, menor mortalidade infantil, menos lixeiras a céu aberto e uma infindável de coisas boas que me fazem dizer sem qualquer sombra de dúvidas que hoje em Portugal, e apesar de uma série de asneiras referidas no teu texto, vive-se hoje melhor que há 20 anos atrás.
Jorge Garcia Pereira
www.loucomotiva.com
Jorge, isso é que é pensar positivo! :)))
;)
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