O edita por escrito
2.
Na estação de Santa Justa, em Sevilla, senti uma náusea análoga à que contenho no aeroporto del Prat del Llobregat. Mas no aeroporto não se deve senão tratar-se do meu local de trabalho e num local de trabalho nunca se pode esperar encontrar o paraíso, quando muito o purgatório.
Na verdade, o que me faltou é a estranheza extrema que senti, no verão de 2006, à estação de Sants, em Barcelona. Ai essa experiência é irrepetível, irrecuperável!
*
Enquanto aguardava pela tapa da casa, um pedaço de tortilha, observei a fauna em redor.
Os velhos eram iguais aos velhos portugueses, na felicidade com que se sentam à mesa e na expressão triste com que se levantavam na direcção da casa de banho. As andaluzas tinham pinta de provocadoras e faziam jus à fama das espanholas em geral e desta região em especial. A minha experiência com estas criaturas é parca mas suficiente para perceber que são umas porcas. A única vez que estive com uma criatura destas, vi-me na boca dela. Eu costumo vir-me na boca, mas, alto aí com as egolatrias e com o meu mérito, não à primeira. Adiante e para rematar, ao balcão vi um maluco sobre o qual nada tenho a dizer se não que era igual a todos os outros malucos que existem no mundo.
Finda a refeição, tomei um café. Se a minha língua bem se lembra, já tinha tomado este café antes e em Portugal. Este era o pior dos portugueses cafés possíveis. Por conseguinte, o melhor dos cafés possíveis em Espanha.
*
Ainda em Santa Justa, o tédio do tempo de espera tomou-me o corpo todo. Até que quase me tomba num torpor total, dos pés à cabeça.
Então elevei-me ao espaço etéreo da escrita. E fico como que a ver estrelas…
Mas a escrita, à medida que escoa, também chega à exaustão. E esgota-se.
Quem não tem cão, tem trolley, concluo eu, e pus-me a dar volta à estação com a mala, como quem leva o bicho à rua.
Ai como eu gostava de soltar o trolley, para depois chamá-lo pelo nome, Trolley assim mesmo, como um animal de estimação, ouvi-lo responder com um latido e viesse a correr ao meu encontro, devidamente domesticado, tudo para uma mistura de choque e gáudio dos presentes.
Mas isto não passou de um delírio de quem trabalha no departamento de malas perdidas de uma companhia aérea. Ou de me esquecer que não tinha ninguém a quem dar a mão e passar o tempo nesse espaço sem tempo onde existem os apaixonados.
Vítor VicenteNa estação de Santa Justa, em Sevilla, senti uma náusea análoga à que contenho no aeroporto del Prat del Llobregat. Mas no aeroporto não se deve senão tratar-se do meu local de trabalho e num local de trabalho nunca se pode esperar encontrar o paraíso, quando muito o purgatório.
Na verdade, o que me faltou é a estranheza extrema que senti, no verão de 2006, à estação de Sants, em Barcelona. Ai essa experiência é irrepetível, irrecuperável!
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Enquanto aguardava pela tapa da casa, um pedaço de tortilha, observei a fauna em redor.
Os velhos eram iguais aos velhos portugueses, na felicidade com que se sentam à mesa e na expressão triste com que se levantavam na direcção da casa de banho. As andaluzas tinham pinta de provocadoras e faziam jus à fama das espanholas em geral e desta região em especial. A minha experiência com estas criaturas é parca mas suficiente para perceber que são umas porcas. A única vez que estive com uma criatura destas, vi-me na boca dela. Eu costumo vir-me na boca, mas, alto aí com as egolatrias e com o meu mérito, não à primeira. Adiante e para rematar, ao balcão vi um maluco sobre o qual nada tenho a dizer se não que era igual a todos os outros malucos que existem no mundo.
Finda a refeição, tomei um café. Se a minha língua bem se lembra, já tinha tomado este café antes e em Portugal. Este era o pior dos portugueses cafés possíveis. Por conseguinte, o melhor dos cafés possíveis em Espanha.
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Ainda em Santa Justa, o tédio do tempo de espera tomou-me o corpo todo. Até que quase me tomba num torpor total, dos pés à cabeça.
Então elevei-me ao espaço etéreo da escrita. E fico como que a ver estrelas…
Mas a escrita, à medida que escoa, também chega à exaustão. E esgota-se.
Quem não tem cão, tem trolley, concluo eu, e pus-me a dar volta à estação com a mala, como quem leva o bicho à rua.
Ai como eu gostava de soltar o trolley, para depois chamá-lo pelo nome, Trolley assim mesmo, como um animal de estimação, ouvi-lo responder com um latido e viesse a correr ao meu encontro, devidamente domesticado, tudo para uma mistura de choque e gáudio dos presentes.
Mas isto não passou de um delírio de quem trabalha no departamento de malas perdidas de uma companhia aérea. Ou de me esquecer que não tinha ninguém a quem dar a mão e passar o tempo nesse espaço sem tempo onde existem os apaixonados.
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