ABRAÇO, PÁ
Faz hoje um ano que o Olímpio Ferreira partiu inesperadamente para lugares mais sossegados. Este texto não pretende homenageá-lo, como sucede com os textos do Belo livro cuja capa acima se reproduz. Acontece que há coisa de um mês o Rui Almeida ofereceu-me este livro. Acontece que o estive a ler esta manhã, comovido e, de certo modo, surpreendido pela rara autenticidade que tinge aquelas páginas. Enquanto lia os relatos, os poemas, os desenhos, as lembranças, também eu me fui lembrando. É desse lembrar que quero dar conta. Lembro-me de ter conhecido o Olímpio Ferreira no lançamento do livro Maga Klimt, de Miguel Granja, para o qual fui convidado pelo Nuno Moura, à época editor da Mariposa Azual. Estávamos, salvo erro, em 1999. Eu acabara o curso de Filosofia e a vida não me corria bem. Ainda assim, resolvi marcar presença no primeiro de não mais que meia dúzia de lançamentos de livros onde estive até hoje. O cenário, no subsolo da Praça do Príncipe Real, era agradável. O ambiente era o de um lançamento de um livro. Algo deslocado, sem conhecer quem quer que fosse, agarrei-me a um copo de vinho e procurei resistir trocando algumas palavras com o Nuno. Também reservado a um canto discreto, estava o Olímpio Ferreira. O Nuno apresentou-nos e ficámos os dois na conversa. Já não me recordo bem sobre o que falámos, mas lembro-me de termos trocado umas palavras sobre história, filosofia, livros. Uns meses depois, fiquei a saber que o Olímpio trabalhava numa livraria em Entrecampos. Fiz-lhe uma visita com uma edição de autor na mão. Era o meu segundo livro, isto já em 2000. Um livro francamente péssimo. Eu não percebia nada de nada, muito menos de edição e de distribuição de livros. Foi ao balcão daquela livraria de Entrecampos que o Olímpio me ajudou a elaborar uma nota de consignação para ir distribuindo os livros pelas livrarias que o aceitassem. E, para meu espanto, não foram poucas. Algo apenas inteligível à luz da qualidade literária da nota de consignação. Depois destes dois encontros, perdi o rastro ao Olímpio. Mas nunca me esqueci dele, ao contrário da maioria das pessoas a quem também perdi o rastro depois de ter optado por deixar Lisboa e vir viver para Caldas da Rainha. Reencontrámo-nos, mais coisa menos coisa, sete anos depois, neste espaço virtual. Um dia o Olímpio escreveu-me um e-mail a pedir-me um endereço postal para me oferecer um exemplar da revista Intervalo. E em Janeiro de 2007 escreveu-me um curioso e atento e-mail por causa de um post sobre Fernando Guedes e de algumas dúvidas que procurei resolver aqui. Dizia o e-mail:
Caro Henrique,
Caro Henrique,
Não sei se tens mais fontes além da wikipedia, mas fiquei com grandes dúvidas sobre a nota biográfica que dedicaste ao Fernando Guedes. Sempre achei que a Livraria Leitura tinha sido fundada e era propriedade do Fernando Fernandes (e do Carvalho Branco da Brasília Editores), até à recente compra pelo grupo Civilização. Fui ver a biografia oficial do Fernando Guedes no site da Verbo e não há referências à Leitura, nem à Sogrape. Há aliás uma discrepância nas datas: 1929, diz o site da Verbo, e não 1928. Também encontrei uma lista de condecorados com uma medalha qualquer da Câmara do Porto: está lá o Fernando Fernandes, na qualidade de fundador e proprietário da Leitura, e um Fernando Guedes, na condição de presidente ou coisa parecida da Sogrape. Tudo isto são coisas de somenos, claro, e nem sei como ter certezas, mas achei melhor alertar-te, ainda assim.
Abraço, pá.
Olímpio
É esta atenção que hoje me emociona. Felizmente tenho tido alguns leitores atentos, infelizmente não posso corresponder a todos da mesma maneira. Por isso me sinto tão mal quando lembro pessoas assim. Pesa-me a consciência de não saber ser como elas.
É esta atenção que hoje me emociona. Felizmente tenho tido alguns leitores atentos, infelizmente não posso corresponder a todos da mesma maneira. Por isso me sinto tão mal quando lembro pessoas assim. Pesa-me a consciência de não saber ser como elas.
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