27.12.08

APRENDER A CONTAR #57

PRELÚDIO PARA SEXO E SONHO

A virilha verde congestionou-me o sonho. Relentado a par de mim e a voz, o eco. Há corpos de homens, rígidos, para deitar abaixo com uma bola vermelha, corpos, subitamente, numa barraca de feira.
A virilha verde retesou-me o sonho.
Porquanto o horizonte é uma centopeia grande, o mar é uma centopeia grande. Nós uma centopeia emborcada, a arranhar o ar.
Abano-me com um leque de papel amarrotado. Saturo-me de coisas familiares. No outono, as flores apócrifas, no papel da parede, deixarão zumbir corolas.
A virilha verde sugou-me o sonho.
O sexo da 2.ª pessoa induvidada. A alma da 2.ª pessoa ambígua é o aberto entre mim e o sangue.
Sangra um lábio ilúcido arpoado no meu. E o silêncio espásmico.
A virilha verde amorteceu no sonho.
Será urgente talhar uma Paz apodrecida, a chicote, pelas manhãs nervadas?
Dormiste com as chaminés a fumegar.
Dormi a dar à luz.
Para se defender de nós, a noite estendeu o escudo. Há uma lua apedrejada de mitos e estrelas.
A virilha verde morreu.

Vigília.

Luiza Neto Jorge, Poesia, Assírio & Alvim, p. 30, Dezembro de 1993.
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