DIA 69 (o dia do hipérbato)
Os outros são sempre o inferno. Nós somos sempre os outros dos outros. Isto é, os outros são todos os demais além de mim entre os quais também eu me incluo. Nós somos o inferno. Eu sou o inferno. E só sei que nada sei. Se nada sei nem sei que sei que nada sei. Logo, eu nem sei que nada sei. Não sabendo nada, como posso ser acusado de alguma coisa? Não posso ser acusado de nada porque ajo sempre segundo uma máxima que posso ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. Sendo tão sadomasoquista quão hedonista, ajo sempre tendo em vista os prazeres do corpo, os quais são impensáveis, do meu ponto de vista, sem a dor que me causam. O meu ponto de vista guia-me as acções não por ser o meu ponto de vista mas por ser aquele ponto de vista cuja universalidade mais me convinha. Em suma: nunca aceito como verdadeira alguma coisa sem a conhecer evidentemente como tal. O inferno apresenta-se-me tão clara e tão distintamente que não posso senão conhecê-lo evidentemente como verdadeiro. O inferno quer dizer os outros. Os outros sou eu. Pum.
1 Comments:
Vergílio Ferreira disse um dia (brincando com Sartre): «O inferno são os outros, por isso é que eu ando de óculos de sol.».
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