4.3.06

DISTRIBUIÇÃO DA POESIA

Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Escutai, meus irmãos: poesia tirei de tudo
para oferecer ao Senhor.
Não tirei ouro da terra
nem sangue de meus irmãos.
Estalajadeiros não me incomodeis.
Bufarinheiros e banqueiros
sei fabricar distâncias
para vos recuar.
A vida está malograda,
creio nas mágicas de Deus.
Os galos não cantam,
a manhã não raiou.
Vi os navios irem e voltarem.
Vi os infelizes irem e voltarem.
Vi homens obezos dentro do fogo.
Vi ziguezagues na escuridão.
Capitão-mor, onde é o Congo?
Onde é a Ilha de São Brandão?
Capitão-mor que noite escura!
Uivam molossos na escuridão.
Ó indesejáveis, qual o país,
qual o país que desejais?
Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Só tenho poesia para vos dar.
Abancai-vos, meus irmãos.

Jorge de Lima

Jorge de Lima nasceu em Alagoas, a 3 de Abril de 1893. Estudou Medicina em Salvador, transferindo-se posteriormente para o Rio de Janeiro. Ainda estudante de Medicina, publicou o seu primeiro livro: XIV Alexandrinos (1914). Elegeu-se Deputado Estadual pelo Partido Republicano de Alagoas (1926) e vereador pela UDN (1946), assumindo a Presidência da Câmara dois anos depois. Iniciou-se, de maneira autodidacta, nas artes plásticas, em 1940, no Rio de Janeiro. Foi homenageado com o Grande Prémio de Poesia (1940), concedido pela Academia Brasileira de Letras. Faleceu, no Rio de Janeiro, em 1953. »

2 Comments:

At 10:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

caraca, pura cultura esse blog
excelente local pra pesquisa pene nao ter descoberto a mais tempo
com certeza irei divulga-lo



http://pingodecultura.blogspot.com

 
At 1:01 da manhã, Blogger Unknown said...

Massa

 

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