29.7.06

QUISERA ESTAR SÓ NO SUL

Talvez meus lentos olhos não vejam mais o sul
De ligeiras paisagens adormecidas no ar,
Com corpos à sombra de ramos como flores
Ou fugindo num galope de cavalos furiosos.

O sul é um deserto que chora enquanto canta,
E não se extingue essa voz como pássaro morto;
Para o mar encaminha os desejos amargos
Abrindo um eco débil que vive lentamente.

No sul tão distante quero estar confundido.
A chuva ali não é mais que rosa entreaberta.
A própria névoa ri: um riso branco no vento.
Obscuridade ou luz, ali são belezas iguais.


Tradução de Eugénio de Andrade.

Luis Cernuda

Luis Cernuda nasceu em Sevilha no dia 21 de Setembro de 1902. Na década de 1920, após estudos de Direito, mudou-se para Madrid. Na capital espanhola familiarizou-se com o ambiente literário da chamada Geração de 27. Do grupo faziam parte, entre outros, Federico Garcia Lorca, Rafael Alberti e Jorge Guillén. Cernuda era o mais jovem de todos eles. Durante a Guerra Civil participou no II Congresso de Intelectuais Antifascistas de Valência, exilando-se posteriormente em Inglaterra, Escócia e México. Publicou o primeiro livro, Perfil del Aire, precisamente em 1927. Seguiu-se Un rio, un amor (1929), fortemente influenciado pelo surrealismo. Foi também autor de vários ensaios literários e colaborador de diversas revistas e jornais mexicanos. Morreu na cidade do México em 1963.

2 Comments:

At 12:21 da tarde, Blogger hmbf said...

para o m. a. domingos
que me lembrou da ausência

 
At 6:14 da tarde, Blogger manuel a. domingos said...

e m.a. domingos agradece, agora que regressa do Sul

 

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