30.9.06

A conspiração dos mentirosos

Comecei a alinhavar umas palavras sobre coerência e convicções. Comecei logo por distinguir um discurso contraditório, mas coerente, de um discurso incoerente, não necessariamente contraditório. Depois lembrei-me de uma entrevista a Peter Singer publicada há anos, salvo erro, numa revista d' O Independente. Fui vasculhar nos arquivos e encontrei a dita. Singer, aí apresentado como filósofo de esquerda a dar aulas com polícia à porta, será um exemplo de coerência: «doa 1\3 do seu rendimento à ajuda aos famintos do mundo. Não como animais. Esta coerência socrática torna-o incómodo. Claro.» Uma das razões para que tão poucos intelectuais incomodem alguém hoje em dia é, quanto a mim, a incoerência que colocam nos gestos e nas palavras e nos raciocínios com que se lançam às questões. Não é uma questão de má-fé. É antes uma questão de incompreensão da mais básica das verdades: a verdade nunca está de um só lado da barricada. Na verdade, não existem barricadas no lugar da verdade. Vem isto a propósito da crónica Mentiras e Consequências, de Miguel Sousa Tavares, publicada hoje no Expresso. O "simpático Aznar" apontado como descarado mentiroso, mentiroso ao triplo. Sobre os quatro das Lajes diz o cronista português: «não se limitaram a mentir: forjaram os fundamentos das próprias mentiras, para vender à opinião pública, como justa e necessária, uma guerra que se revelaria, quer ética quer politicamente, completamente ilegítima e estúpida». Sugere-se mais uma vez a leitura do discurso de Harold Pinter aquando da aceitação do Prémio Nobel da Literatura. Um discurso, de resto, que me motivou variadíssimas dúvidas. E que tem tudo isto que ver com coerência e convicções? Remeto-vos para o Jornada.
Adenda: Acabei de ver uma boa edição do Quadratura do Círculo, onde aos quatro do costume se juntou o ex-PR Sampaio. Lá estava JPP, mais uma vez, em estampada incoerência consigo próprio. Queixa-se da política espectáculo, quando as políticas que defende são as que mais promovem o espectáculo da política. A sociedade de espectáculo é uma consequência directa da sociedade de consumo que, por sua vez, dificilmente poderá ser pensada sem o capitalismo desenfreado do Tio Sam. Aliás, JPP é ele próprio um dos políticos-espectáculo dos nossos tempos. Não é por acaso que já o apanhei pelo menos 3 vezes no Prós & Contras.

1 Comments:

At 10:13 da tarde, Blogger Logros said...

O "simpático Aznar"? Compincha do auto-exportado Barroso?
Mas, os manipuladores não serão todos simpáticos?
Se o não fossem, não convenciam ninguém.

Vi.

 

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