Cenas de infância Op. 13 – Primeiro amor
O verão chegou amarelo, como as férias grandes. Joaninha vai a casa de uma prima, tomar banho na piscina. É muito divertido, joga às cartas, senta-se no cadeirão de baloiço, já fez amigas novas e conheceu um primo afastado que é lindo. Mal o viu ficou toda atrapalhada, ele é parecido com o príncipe dourado da capa do seu livro favorito, aquele que matou o monstro Golías; é alto, tem sardas e uns olhos enormes verdes-azuis. As iniciais do nome do primo equivalem a um partido político, por isso tem escrito as letras em todo o lado, nos cadernos, nos livros, nas paredes da cidade com lápis de cera, mas ninguém entende nada. Além disso, a Joaninha arranjou uma toalha de praia a fazer propaganda ao partido, não é o da pata da galinha, também não digo qual é, tenho vergonha. Na piscina deita-se na toalha a apanhar sol, na esperança que o primo entenda e repare nela. A Joaninha não conta nada a ninguém, esta paixão é secreta, tem medo que gozem com ela, sobretudo, os rapazes mais velhos e os irmãos, com os quais o primo está sempre. Os rapazes chamam-lhe baleia azul, ela não gosta nada, mas o primo não faz isso. No entanto, não lhe liga nenhuma, só quer saber das brincadeiras com os rapazes e a Joaninha anda muito triste. Ela já pensou em abrir as asas e voar com a toalha nos pés, para mostrar as bolinhas de aguarela que tem guardadas na carapaça. Talvez assim o primo desse por ela.
Mais tarde, a Joaninha veio a saber que o seu primo morreu de um modo absurdo: estava na praia e teve uma congestão, porque foi tomar banho depois do almoço. Quanto ao partido político, morreu antes, se não foi de congestão, foi com algo parecido, de qualquer modo os partidos políticos são absurdos.
Maria João
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