26.8.05

SEJA ASSIM O POEMA

Fodem-te a vida, o papá e a mamã,
Mesmo que não seja essa a intenção.
Deixam-te todos os vícios que tenham
E mais dois ou três, por especial atenção.

Mas no tempo deles também foram fodidos
Por tolos trajando jaquetão e coco,
Que quando não estavam piegas ou hirtos
Saltavam, raivosos, à veia, ao pescoço.

E assim é legada a infelicidade,
Vai mais e mais fundo, como o fundo do mar.
Foge mal tenhas oportunidade
E quanto a teres filhos – isso nem pensar.

Tradução de Rui Carvalho Homem.

Philip Larkin (1922 - 1985)

Philip Larkin, poeta, romancista e crítico, nasceu em Conventry, Inglaterra, em 1922. Estudou literatura inglesa, foi amigo íntimo de Kingsley Amis (e padrinho de Martin Amis), amante e crítico de jazz, bibliotecário nas universidades de Leicester, Belfast e Hull. Esteve ligado ao movimento literário inglês The Movement, que, nos anos 50, reuniu escritores como Kingsley Amis, Donald Davie ou Thom Gunn, entre outros, e que defendia uma literatura virada para a vida comum, numa linguagem simples, directa e clara. Os escritores que integravam este movimento reclamavam-se de uma baixa classe média da província, estatuto esse que opunham ao Establishment intelectual, artístico e académico da capital, das classes altas e das duas universidades com primazia histórica e influência dominante, Oxford e Cambridge. A obra literária de Philip Larkin compõe-se, essencialmente, de dois romances – Jill (1946) e A Girl in Winter (1947) – e quatro livros de poesia: The North Ship (1945), The Less Deceived (1955), The Whitsun Weddings (1964) e High Windows (1974). Philip Larkin continua a ser hoje, quase vinte anos passados sobre a sua morte, um poeta controverso. A sua personalidade tem suscitado as mais acesas discussões, sobretudo a partir da publicação, em 1992, dos Selected Letters, onde parece consolidar-se a imagem de um homem misógino, racista, homofóbico, nostálgico de políticas autoritárias e historicamente regressivo. Porém, a sua poesia não deixa de marcar de forma indelével a literatura inglesa do século XX, tendo hoje lugar entre os grandes poetas de língua inglesa, ao lado de T.S. Eliot, Ezra Pound ou Dylan Thomas. (daqui)