7.10.05

Normalmente lavo as mãos antes e depois de escrever mesmo que sejam coisas porcas # 4

Vandéme, enlargada, porradilho
o primeiro é porrada
o segundo é mal amada
o último é fodi-lho.

Ivo Longomel

De Ângelo de Lima aproveita Nuno Moura «a loucura das palavras inventadas». Recordemos, a este propósito, uma curiosidade: entre outras actividades, teve o poeta a de editor. Com Helena Vieira manteve no activo durante nove títulos publicados o projecto editorial Mariposa Azual – expressão esta colhida no poema Edd’Ora Addio… - Mia Soave!... do poeta de Rilhafoles. À Mariposa Azual deve-se a primeira reunião da Obra de Adília Lopes. O facto não é de somenos importância, se tivermos em conta a relativa influência desta obra em pelo menos dois livros de Nuno Moura - precisamente os que foram escritos sob o patrocínio de uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura: Nova asmática portuguesa e a sua natural sequela nos Livros de Hélice Fronteira, Regina Neri, Vasquinho Dasse, Ivo Longomel, Adraar Bous, Robes Rosa, Estevão Corte e Alexandre Singleton. Quer num quer no outro volumes são plausíveis as influências tanto de Ângelo de Lima como de Adília Lopes. Parte do que Américo António Lindeza Diogo afirma no posfácio à Obra de Adília pode mesmo, sem qualquer mácula, ser aplicado à poesia de Nuno Moura: «informalismos vários, alguns prezando-se de contra-cultura», «Kitsch e “reportagem”», «sentido da incongruência», nonsense e, principalmente, «reconhecimento da vida como errância sem sentido». Exemplos, há muitos: «Uma mulher amamenta o jornal / do marido enquanto conta / e toma das filhas. // as páginas pesam um quilo de barulho / quando dobram entre eles. // ela vê um campo de alfaces e o adeus / de um homem no meio. // o anúncio número dez entorta. // antes da polémica número onze o olhar / dela já tinha ido frear a emergência / para lá do vidro.» (In Nova asmática portuguesa, p. 48).