Falas de Civilização
Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as cousas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para quê te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as cousas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para quê te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!
Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa a 16 de Abril de 1889. Nessa cidade faleceu, tuberculoso, em 1915. A sua vida, porém, decorreu quase toda numa quinta do Ribatejo. Só os seus últimos anos foram passados na sua cidade natal. Ali foram escritos quase todos os seus poemas, os do livro intitulado O Guardador de Rebanhos, os do livro, ou o quer que fosse, incompleto, chamado O Pastor Amoroso. Todos esses poemas herdou-os Fernando Pessoa para publicação, tendo-os reunido sob a designação, proposta por Álvaro de Campos, de Poemas Inconjuntos. Alguns dos últimos poemas de Alberto Caeiro revelam, pela perturbação da doença, uma novidade um pouco estranha ao carácter geral da sua obra. A vida de Caeiro não pode narrar-se pois que não há nela de que narrar. O mesmo breve episódio, improfícuo e absurdo, que deu origem aos poemas de O Pastor Amoroso, não foi um incidente, senão, por assim dizer, um esquecimento. Ignorante da vida e quase ignorante das letras, sem convívio nem cultura, toda a sua obra foi dedicada à memória de Cesário Verde.
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