Toupeiras há muitas
João Pedro George volta a cascar na «crítica literária jornalística». O post intitulado As toupeiras acomodam-se está a dar que falar, como já antes havida dado um artigo publicado na Periférica especialmente dedicado aos críticos literários do suplemento Actual (Expresso). Desta feita, o alvo é uma recensão assinada por José Mário Silva, no Diário de Notícias, a um livro de um seu amigo pessoal. Em termos estatísticos, no que respeita a fundamentos acerca do panorama traçado, não se pode negar a João Pedro George doutas capacidades. As dúvidas que as suas investidas levantam são de outra ordem. Deveremos considerar sempre «esperteza saloia» e «oportunismo», «patético» e «burlesco», quando a crítica literária é exercida entre amigos? De outra forma: que mal vem ao mundo quando alguém publica uma crítica literária a um livro de um amigo? Sempre assim foi, sempre assim será. Ainda mais num país pequeno como o nosso. Tomemos de exemplo a cronologia que Eduardo Pitta disponibiliza no seu sítio pessoal. A gente lê aquilo de uma ponta à outra e fica com a nítida noção de que o reputado crítico conhece meio mundo literário (português), desse meio é amigo de metade e priva ou privou com a restante. Contudo, deveria isso tê-lo impedido de escrever acerca dos livros dos seus amigos? Julgo que não, tal como não tem vindo a acontecer. Na revista LER são várias as recensões pela sua pena a livros de amigos seus. Vejam-se, a mero título de exemplo, as recensões a livros de valter hugo mãe (n.º 52, n.º 59, n.º64) e Jorge Melícias (n. 64), com quem colabora no weblod Da Literatura, mas também a livros de Jorge Reis-Sá (n.º 52, n.º 64, n.º 65), editor das Quasi onde Pitta tem vindo a publicar alguns livros de sua autoria. Outras situações, tão ou mais caricatas, poderiam ser referidas. Note-se a recensão a um livro de José Ricardo Nunes, na LER n.º 58, que, por acaso, havia escrito elogiosamente sobre um livro de Eduardo Pitta na LER n.º 48. Estas coincidências têm na sua origem vários factores. Quando alguém acumula funções de crítico com as de escritor, ou mesmo com as de editor, é muito natural que tais fenómenos sucedam com alguma regularidade. Em Portugal, como o meio literário é muito restrito, dá ares de promiscuidade. Trate-se ou não de favores, trate-se ou não de “amiguismo”, trate-se ou não, ao jeito do que quer João Pedro George, de «esperteza saloia» e «oportunismo», muito dificilmente poderá o cenário vir a mudar. Nem julgo que isso seja importante. Não sinto, portanto, que venha mal ao mundo por um crítico pronunciar-se sobre a obra de um amigo, desde que o faça com o mesmo grau de exigência e aplicação que dedica às obras de outros autores. Daí que me pareça que nos seus meritórios intentos o crítico João Pedro George se tenha ficado pela metade. É que toupeiras há muitas, acomodadas com maior ou menor evidência aos covis que mais lhes convêm.
Mais: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui. (s[e] t[ens] o[lhos] p[ára])
27 Comments:
Se me permite: valter hugo mãe publicou dez livros de poesia, um romance, e organizou várias antologias. Desse corpus, escrevi sobre dois livros de poesia e uma antologia de autores dos anos 1980. Jorge Reis-Sá publicou cinco livros de poesia, um romance, e organizou várias antologias, tendo eu escrito sobre o mais recente dos livros de poesia, e sobre as duas edições (porque diferentes uma da outra) de uma antologia de autores dos anos 1990. Jorge Melícias publicou cinco livros de poesia, tendo eu escrito sobre o penúltimo. No blogue nunca escrevi sobre nenhum.
Caro Eduardo Pitta, é claro que já fiz essa contabilidade. Podíamos falar de Rui Coias, Pedro Sena-Lino, etc... Não é isso que me interessa. Nem sequer quero com isto dizer que você só escreve sobre os seus amigos. Longe disso. Seria muito injusto da minha parte, eu que já confessei ter chegado a inúmeros poetas à conta das suas recensões. A questão que eu coloco é se, segundo os critérios de João Pedro George, essas recensões que fez a livros dos seus amigos deverão ser consideradas de «espertaza saloia» e «oportunismo». Como disse, e repito, julgo que não. A verdade é esta: a maior parte dos críticos literários tende a escrever sopbre os livros que lhes chegam às mãos, com maior ou menor facilidade. Raramente entram nas livrarias, compram livros de autores desconhecidos e arriscam leituras novas, pessoais. Talvez por questões de segurança, tendem a escrever sobre autores que conhecem bem (pessoalmente e intimamente ou não) e sobre outros acerca dos quais já muito foi escrito. O Eduardo Pitta escreveu sobre livros, e há-de continuar a escrever, dos seus amigos. O António Guerreiro faz o mesmo. O Freitas, o Sena-Lino, o Lisboa, o Prado Coelho, o Mexia (você também é amigo do Mexia e tem escrito sobre quase todos os seus livros, faz muito bem), etc, etc, etc, também. Não há volta a dar-lhe.
Este George é um pobre de espírito que muito se tem esforçado para que reparem nele, adoptando para isso tácticas de criticismo terrorista que o creditam, não como o enfant terrible que ele talvez se supõe, mas como um pobre tolo e um ressentido, que adoraria escrever no Expresso (ou em qualquer outro lugar que não o seu blogue) e não consegue. Daí o seu pretenso moralismo, o seu avanço de cotovelos em riste, numa atitude de prelado hipócrita e bacoco. Num país onde são meia dúzia os gatos pingados que escrevem ou se dedicam à crítica, e onde toda a gente ou quase mora em Lisboa, é impossível que não se conheçam todos. De resto, nunca em Portugal foi possível o distanciamento entre poeta e crítico que outros países (mais extensos) permitem, mais ainda quando em muitos casos são os próprios poetas quem faz crítica literária. Gostava de saber de um nome, um só, que na crítica literária em Portugal não tenha tido que escrever sobre amigos seus. O Eça sobre o Antero, o Pessoa sobre o Sá-Carneiro, enfim, seria fastidiosa e interminável a lista. Supôr, como o pobre tolo do Georgie, que anda tudo mancomunado é desconhecer (ou fingir desconhecer) o processo das relações humanas. A coisa mais normal do mundo é alguém gostar da obra de outro alguém e, a partir dessa identificação, acabar por se tornar amigo dessa pessoa da qual, a princípio, era apenas admirador. Não é só o interesse que move as pessoas (excepto quando essas pessoas se chamam George). Dito isto, claro que há muito compadrio e muita falsidade e muito amiguismo na república das letras. Mas essa detecta-se á légua, basta cheirar um texto para saber se o que nele se exprime é a pertença à Sociedade do Elogio Mútuo de que falava Camilo ou uma perspectiva crítica e reflexiva sobre um texto. Não importa se A é amigo de Be; importa é se o texto que A escreve sobre B exprime ou não um distanciamento crítico (necessariamente reflexivo) ou se não passa de um desfile de adjectivos radiosos e superlativos.
Já em relação ao E. Pitta, o problema dele não é falar bem dos amigos e mal dos inimigos, é fazê-lo sem sombra de discernimento crítico, a partir de uma perspectiva oca e desinformada e numa postura deliberadamente "confusionista" e apostada em confundir alhos com bugalhos, numa de quem é dono do baralho e gostaria de distribuir de novo as cartas pra ver se o destino o favorecia, se não com mais talento, pelo menos com mais sorte.
JMS
Caro JMS, estamos de acordo no essencial. Sobretudo nisto: «Não importa se A é amigo de B; importa é se o texto que A escreve sobre B exprime ou não um distanciamento crítico (necessariamente reflexivo) ou se não passa de um desfile de adjectivos radiosos e superlativos.»
Meus caros, permitam-me, até porque detectei o meu nome num comentário (o que, na verdade, não me incomoda nada; aliás, para mais, o Insónia é, na minha opinião, um dos melhores blogs portugueses, e tenho todo o prazer em ser referido pelos seus bloguistas, como, aliás, fui, recentemente, e com muita honra, numa recenção ao meu último livro): pugno, e sou, efectivamente, independente, e vou continuar a sê-lo, e não me considero, em nada, arreigado a bailados de atiçar pagas recíprocas, até, porque, estoua afastadíssimo disso tudo, preocupando--me, apenas, em escrever. Mas o problema não é o que referem, permitam-me: uma coisa é escrever, com meestria e independência, sobre quem se conhece ou a quem se chegou conhecendo um livro, ou coisa, sim, essa passível de apontamento, o compadrio, esse, sim, visível, e condenável, em várias e conhecidas esferas. Um abraço, Rui Coias
Caro Rui Coias, antes de mais muito obrigado, novamente, pelo comentário. O facto de ter referido o nome do Rui Coias deve-se a algo que o próprio Eduardo Pitta deixou claríssimo neste post: http://daliteratura.blogspot.com/2005/11/ordem-do-mundo.html (Fez por estes dias dez anos que conheci o Rui Coias (n. 1966), que então ainda assinava Rui Penote Coias. As circunstâncias do nosso encontro foram fortuitas, mas quis o acaso que fosse eu quem primeiro leu os poemas que já então escrevera. E de tal modo me impressionaram que sugeri à Inês Lourenço — na altura ocupada com o edit do n.º 10 dos cadernos de poesia Hífen, preenchido por alguns poetas dos anos 1990 — a inclusão do seu nome na selecção. Assim aconteceu.) Volto a dizer: não há mal nenhum nisto e o próprio Eduardo Pitta teve o cuidado de deixar bem claro o tipo de relação que tem com o autor do livro visado. O que pretendo é somente dar a entender que os posts de João Pedro George sobre este tema, se levados à letra, são despropositados, injustos e inconsequentes. Quanto a esferas de compadrio, elas são evidentes para qualquer leitor atento. Tenham sede em Lisboa, Porto, Coimbra ou Vila Nova de Famalicão. O essencial está dito e visto. Cá ficarei aguardando por novas desse labor que mais o preocupa: escrever. Saúde,
Meu caro: estamos a descurar o essencial: «quando os livros valem por si, a pessoa do autor é irrelevante». Acho que nisso todos estaremos de acordo.
É claro que sim, mas eu deixei isso bem claro desde o início.
O problema é que há livros que valem por si, mas, para alguns críticos, o autor não é irrelevante.
Ora, agora sim, deixámos de nos preocupar com o acessório, não descurando o essencial. Muito bem. saudações, RCoias
O meu comentário foi aposto fora de tempo, o que eu queria comentar como sendo o essencial é, aquando se referiu : "Meu caro: estamos a descurar o essencial: «quando os livros valem por si, a pessoa do autor é irrelevante». Acho que nisso todos estaremos de acordo."
É isto que eu saudo, como o essencial. O resto é passatempo. Rui Coias
Subscrevo o essencial dos comentários do J. P. George sobre o favoritismo na crítica literária lusa (ter sido o DN a servir de pretexto, existindo o suplemento floral do Público e outros há séculos, foi um bocado injusto, embora aquele tenha dado o flanco).
Nem tudo estará completamente certo (é possível criticar/ recensear amigos ou conhecidos mantendo imparcialidade, claro); porém, num meio com espaço draconianamente limitado e essencialmente público como o jornalístico, há que ser selectivo e imparcial.
A propósito, já repararam no espacinho destinado ao ensaio e às ciências sociais na imprensa lusa? Se formos por aí, ui...
Claro que ser o JPP a vir a terreiro (bem criticado pelo Pedro Mexia, em «Gu gu»), o intelectual orgânico do centrão/ direita/ do que está a dar, o polícia-sinaleiro dos media (que quanto mais lhes bate mais eles gostam dele), o intelectual do (novo) regime, enfim...
Em suma, é o que há na chafarica.
Alternativa: El Pais (em linha, à borlix!), The Guardian, etc.. E a Internet, claro!
PS: o JMS aqui de cima é o mesmo infeliz ressentido que foi alvejado pelo George ou é só uma feliz coincidência?
Viva a neve crítica, que impõe escorregadelas inesperadas!!!
Daniel Melo, obrigado pelo comentário. Tem muita razão no que refere relativamente à parca crítica literária dedicada ao ensaio nas páginas dos nossos jornais. Algumas das alternativas que propõe parecem-me bem, embora não seja especial leitor de crítica literária do que quer que seja. Prefiro mesmo o ensaio. Quanto ao resto, correndo o risco de me repetir, não julgo que JPG tenha assim tanta razão. Isto porque ele generaliza (Temos uma crítica literária jornalística de fachada.), para depois particularizar (Na edição de hoje, na página 27, José Mário Silva, jornalista do DN, assina prosa sobre livro de Nuno Costa Santos, amigo pessoal, também ele a colaborar no suplemento, ambos da equipa que organiza o É Cultura, Estúpido, no S. Luiz. Patético e burlesco!); depois porque vê oportunismo na crítica literária que um amigo possa fazer ao livro de um outro amigo, quando isso, a meu ver, não é por si mesmo um mal absoluto (dei os meus exemplos). Quanto à questão no final do comentário, não lhe posso ser eu a dar resposta.
Acabei de ler a cronologia do Eduardo Pitta. Vou tomar dois ben-urons e deitar-me, mas não tenho a certeza de ressuscitar.
Adorei a "recenção" de Rui Coias.
Merecia uma recensão.
Ora bolas para o "escritor"!
e eu, que desconhecia a existência de Eduardo Pitta, estou a passar um mau bocado. Acabei de passar pela cronologia Pitta e pelo Album Pitta onde Pitta pendura ao peito pessoas como medalhas e chega! Quanto ao João Pedro George, tem de ser lido, creio, creio, como um provocador. Agit-prop. Já é suficiente. O grande amigo de Luiz Pacheco sobre Pacheco escreveu e editou. No programa de Viegas da RTP N quem lá estava sentado no outro dia era Pitta, Mexia e George e ninguém estranhou as votações da iniciativa do programa e blog Livro Aberto/Público em que Viegas aparece numa lista dos melhores livros do ano a escassos votos de Agustina ou em que o ensaio de Eduardo Lourenço foi menos reconhecido do que o ensaio de Rui Tavares. Se isto não desse vontade de rir, daria para chorar?
E que dizer do compadrio Costa, a propósito do livro das nuvens graves das pessoas!!! Quem é esse Costa para ter sido assim votado cimeiramente nos melhores da poesia 2005??' Por amor de deus!! Não serão os amiguinhos dos amiguinhos a votar votos comprados? Humberto Leça
Repetindo: Caro Humberto Leça, o seu comentário parece-me desesperado. Mas enfim... Se quer que lhe diga, também achei deslocada e risível a votação que o livro do Rui mereceu. Já lho disse. De mim não levou voto algum, pois não votei. O que não quer dizer que não tenha gostado do livro do Rui, que comprei numa livraria e sobre o qual escrevi ainda antes de ter conhecido o Rui pessoalmente. Conhecia-o apenas de e-mails, como a outras pessoas que se têm metido comigo por causa deste e de outro blog que tive. De resto, quanto a esse assunto o Pedro Mexia disse tudo no programa onde essas votações (do meu ponto de vista ridículas) foram discutidas: o Rui costa mereceu quase tantas votações quantos leitores o livro terá tido. Disse-o com ironia, mas provavelmente não andará longe da verdade. Agora não sei é o que o seu comentário tem que ver com o assunto aqui tratado. Mas enfim: desespero, puro desespero. (P.S: sabe o que é um IP?)
Não resisto:
uma coisa que há muito me surpreende é achar-se inamovível alguém que antes criou uma obra de qualidade, como se a qualidade fosse hereditária e em série.
Sucede que, oh sacrossanta hipótese!, talvez Eduardo Lourenço se esteja repetindo há umas eras a esta parte, e haja pessoas que, tendo reflectido na vida (inclusivé no que ele escreveu), tenham tentado avançar um pedacinho:
será possível?
Já quanto ao sr. Viegas, que ele tem jeito para mercadejar não haja dúvidas: recorda-me o sr. Oliveira da Figueira, do Tintim, impingindo caloríferos (e outro bechisbeque) em pleno deserto...
Estes concursos só enganam papalvos: novamente, quase só ficção dos 'nossos', a ditadura da edição anual da chafarica, desprezo do ensaio e da reflexão científica, com umas excepções pelo meio para disfarçar; é só mais uma passerelle de pavões e/ou intermediários do comércio cultural.
Ora aí está, Daniel Melo. Assim é que se fala. Mas eu pergunto: era de esperar outra coisa em votações na Internet?
Confissão politicamente incómoda:
noutro lugar a votação seria na mesma um embuste..basicamente, votam sempre amigos e conhecidos (i.e., editores, livreiros, distribuidores, críticos amigos e adjacências).
Eu tb. votei naquele simulacro, a ver no que dava: pus sobretudo ensaio, encimado pelo Tavares (em 2005 as alternativas eram a novela iniciática da drª M.F.Mónica, o romance de cavalaria de ABC por JPP ou o enésimo sermão do prof. Lourenço, arre!!), coloquei livros editados noutros anos, etc..
A ver se o manto diáfono cai e o ridículo desponta..
Mas num país embrutecido como o nosso demora algum tempo...
PS: onde atrás escrevi «sacrossanta hipótese» leia-se «sacrossanta heresia», obviamente.
Caro Daniel Melo,
O JMS que comentou neste thread não sou eu, o supostamente "infeliz ressentido". Aliás, eu não estou infeliz, nem ressentido, nem coisa nenhuma. Por uma simples razão: eu sei o que escrevi na tal crítica "amiguista" que anda para aí a causar tanto sururu. Mas, pelos vistos, os muitos comentadores da blogosfera não se deram ao trabalho de ir cotejar esse texto original, a ver de onde vinha tamanha barulheira.
Se quiser, pode vê-lo transcrito em http://morel.weblog.com.pt (uma vez que o suplemento não está on-line).
Como é evidente, em matérias desta importância, nunca assinaria com iniciais. Agradeceria por isso que o outro JMS evitasse os equívocos que aparentemente já criou por aqui.
Meu caro José Mário Silva:
lamento o equívoco identitário, involuntário da minha parte (é por estas e por outras que sou contra anónimos e outros cobardes que não assumem o que dizem publicamente).
Por outro lado, estás novamente com azar: sou leitor regular do DN desde Dezembro, fartei-me do pasquim pavloviano-bushista do Zé Manel. E já tinha lido o teu texto (e vou continuar a ler-te, erros todos damos, não importa o grau) quando dou com a investida certeira do J. P. George.
O teu texto serviu de pretexto para se abordar uma questão complexa e relevante, tão-só isso, mas uma questão que os agentes no terreno nunca abordariam se não fossem interpelados por dessassombrados como o J. P. George.
O cerne da polémica é o contexto da escolha que se faz na divulgação cultural, o que se revela e o que se omite e suas implicações. Neste particular, o ensaio/ reflexão científica em Portugal é um enteado desgraçado, onde só cabem os textos de uns poucos budas e pseudo-ensaios de vips, que todos correm a opinar, salivando de contentamento parolo por irem atrás da carruagem. Também poderia falar no teatro, dentro da ficção.
No meio cultural luso vivemos ainda em sociedade de corte semi-feudal, em sistema de coutadas, donde se sai de vez em quando para ir ao beija-mão nos palácios reais ou de fidalgos amigos.
Este é o contexto mais vasto disto tudo; por isso, a desculpa da impossibilidade de fuga ao auto-elogio por todos se conhecerem é um sofisma: quando se estreitam muitos os horizontes, dá nisso...
Parece que o George continua na dele, e insiste em que descobriu a pólvora. O melhor é dar-lhe razão, a ver se ele se cala. Pela parte que me toca, deixo aqui registado que nunca mais lerei Camilo, Eça, Pessoa, Pessanha, Sena, D. M. Ferreira, Ramos Rosa, Couto Viana, Virgílio Ferreira, Eugénio de Andrade, Agustina B. Luis, Ruy Belo, Joaquim Manuel Magalhães, JM Fernandes Jorge, V. G. Moura, Manuel de Freitas, P. Mexia, etc., etc., e todos os demais canalhas que cometeram a vileza de terem escrito sobre amigos seus! Acabou-se, vai tudo pá lixeira. A partir de agora, só leio poesia zulu e JP George.
Daniel Melo, vá chamar cobarde à sua vóvó. Pensa que eu não sei que você não se chama Daniel Melo, mas sim Francisco da Cunha, ou Roberto Carlos, ou João Tavares? Prove a sua identidade, seu falsário encapotado.
JMS
(ou Jorge Melusino Soares, Jaime Monteiro de Sá, José Miguel Silva, Júlio de Matos Silveira, John Mantovani Saint, Jácome Madureira Seixas, Jeremias de Matos Saleiro, etc. Escolha você. Qual é que prefere?)
Vamos fazer uma sardinhada, todos juntos, bebemos umas malgas de tinto (daquele que que nos deixa os beiços como os da Angelina Jolie...), contamos anedotas porcas, falamos alto, espreitamos para debaixo das saias das senhoras; depois escrevemos um livro todos juntos, publicamos a obra colectiva, vamos ao Livro Aberto todos juntos criticar despudoradamente o "nosso" livro, acabamos ao estalo e mordidela, morremos todos, somos enterrados, acabamos, acaba a maldade, acaba o mal.
É um belo cenário.
e uma optima (p)aragem!
Aurora
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