13.3.06

Uma grande desgraça, dom, uma grande
desgraça, abandonado por toda a gente, o dom
compreende, pode ser amarguinha, a mim sabe-me
doce, mas depois recompus-me e tenho-me
divertido à grande e à francesa. A propósito,
ó dom, quem diabo seria a francesa? Vozes
ouvidas, guitarras chorai, que eu tenho um fígado
que não há pai. Vão aos três quatro de uma vez,
metem medo e cheiram mal, de vez em quando
vai um a enterrar. Verdadeiras lágrimas salgadas, ó
baía de cascais, quantos dos teus iates
matavam a fome em moçambique e que tais?

Helder Moura Pereira
Fotografia de João Carlos Santos (Expresso).

Helder Moura Pereira nasceu em Setúbal em 1949. Reuniu a sua poesia publicada entre 1976 e 1990 no volume De Novo as Sombras e as Calmas (Contexto, 1990). Desde então publicou vários livros de sua autoria, entre os quais Um Raio de Sol (2000) e Mútuo Consentimento (2005). Tradutor de obras de Ernest Hemingway, Jorge Luis Borges, Sylvia Plath, Sade, Guy Debord, entre outros, é também autor de livros para crianças: A pensar morreu um burro e outras histórias (1999) e Os poemas do coelho Ramon (2001). Tem colaboração dispersa por várias revistas. Estreou-se em 1976, num volume colectivo intitulado Cartucho.

2 Comments:

At 10:19 da manhã, Blogger Eduardo Pitta said...

Caro Henrique Fialho: isto não tem grande importância, mas o «Cartucho» não é um volume, é mesmo um cartucho (concebido pelo Palolo), em papel craft, com folhas amarrotadas dentro (folhas com poemas, já se vê).

 
At 10:23 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Caro Eduardo Pitta, isso faz toda a diferença. Muito obrigado pela correcção. Eu não fazia a mínima ideia de que se tratava, limitei-me a ir à bibliografia oficial. :) E ora aí está uma peça de colecção a abrir-me o apetite. Provavelmente, bem poderei continuar a salivar. :/

 

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