18.3.06

FUNDO DE DESEMPREGO

Uma borboleta, um colar de coral
o rapaz não quer saber de competência.
Está por agora aqui
amanhã pode sentar-se noutro lado
não tem opinião sobre coisa nenhuma
e nada nem ninguém o desconvocam
do seu concílio com a indiferença.
Veio de Colónia e na volta é semelhante
suprimiu hamburguers
com pescadores ao lado.
O resvale da tarde sobre rochas
não lhe prega na alma
precipícios.
Um ocaso onde há melancolia
desperta-lhe a contra-gosto
recessões
e perde tempo a descobrir ao sol
a loura rapariga inanimada
enquanto apalpa
na bolsinha a erva.
No outro dia é com resignação
que se saúdam
e a tarde nos contunde
mineral.

Fátima Maldonado

Fátima Maldonado nasceu em 1941. Jornalista e crítica literária, fez a sua estreia como poeta em 1980 com Cidades Indefesas. É autora, entre outros, dos livros Cidades Indefesas (Centelha), Presságios (Presença), Selo Selvagem (Gota d´Água), Cadeias de Transmissão (Frenesi) e do álbum sobre os Açores, Lava de Espera, em colaboração com o fotógrafo António Pedro Ferreira. Na sua poesia, encontramos uma temática explicitamente erótica e uma condição feminina claramente assumida que se conjugam com o mundo quotidiano e a evocação da infância e da adolescência. »