20.5.06

CANTIGA

Sozinha no bosque
Com meus pensamentos,
Calei as saudades,
Fiz trégua a tormentos.

Olhei para a lua
Que as sombras rasgava,
Nas trémulas águas
Seus raios soltava.

Naquela torrente
Que vai despedida
Encontro assustada
A imagem da vida.

Do peito em que as dores
Já iam cessar,
Revoa a tristeza
E torno a penar.
Marquesa de Alorna

Marquesa de Alorna, D. Leonor de Almeida Lorena e Lencastre, nasceu em Lisboa a 31 de Outubro de 1750. Aos oito anos foi encerrada como prisioneira no convento de Chelas. Na sua reclusão do convento de Chelas, entregou-se aos estudos e à composição de poesias, vindo estas a figurar mais tarde nas suas obras completas com o título de Poesias de Chelas. Conhecedora de várias línguas, desenhava e pintava admiravelmente. Enamorou-se dum fidalgo alemão, o conde Carlos Augusto de Oeynhausen, com o qual casou em 1779. Após a nomeação de ministro plenipotenciário de Portugal em Áustria, o conde de Oeyhhausen partiu para Viena na companhia de sua esposa. A condessa tornou-se notável, em Viena, como poetisa e pelos seus trabalhos de pintura. O conde de Oeynhausen faleceu a 3 de Março de 1793. Após a morte do marido, D. Leonor de Almeida dedicou-se à educação dos filhos e à reabilitação da memória da sua família, sobretudo de um seu irmão, que fora condenado como traidor à pátria. Adoptando o nome literário de Alcipes, de entre as suas obras destacam-se as Obras Poéticas (seis volumes que incluem epístolas, odes, sonetos, éclogas, elegias, canções, apólogos, cantigas e epigramas). Todas as suas obras foram publicadas postumamente, após a morte ocorrida a 11 de Outubro de 1839.