CASAMENTO
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, peque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como «este foi difícil»
«prateou no ar dando rabanadas»
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos pela primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Meu marido, se quiser pescar, peque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como «este foi difícil»
«prateou no ar dando rabanadas»
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos pela primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Adélia Prado nasceu em Minas Gerais no dia 13 de Dezembro de 1935. Começa a escrever poesia na sequência da perda da mãe, em 1950. Forma-se em Filosofia em 1973. Três anos depois, sob conselho de Carlos Drummond de Andrade, publica o seu primeiro livro de poemas: Bagagem. Em 1978 é-lhe atribuído o Prémio Jabuti pelo livro O coração disparado. Na sequência do sucesso começa a escrever prosa. Dirigiu o grupo teatral amador Cara e Coragem, exerceu as funções de Chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e da Cultura de Divinópolis, participou em vários encontros de escritores. Em 1991 foi publicada a sua Poesia Reunida.
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