[Animais domésticos]
No final de cada período escolar era frequente organizar-se uma festa no pavilhão municipal. Havia um DJ a abrilhantar o forrobodó, com ameaçadoras sequências de canções. Dividíamo-nos em dois grupos: os que tinham namorada e os que, negligenciados pela graça do amor, ambicionavam ter. Havia ainda um terceiro grupo, do qual eu fazia parte. Era o grupo dos que preferiam “os paraísos artificiais” aos prazeres da paixão. Tristes opções. Normalmente ficávamos a um canto, observando as miúdas dos outros e trabalhando a inveja como quem afia lapiseiras. Quando os slows eram abruptamente interrompidos pelas guitarras dos Sex Pistols, as miúdas encostavam à box e os rapazes misturavam-se no centro da pista. Reuníamo-nos em círculo, numa espécie de manifestação de virilidade, tipo BBC vida selvagem, que punha à mistura nódoas negras nas canelas e alguns narizes a sangrar. Às vezes sinto saudade desse tempo. Era tudo mais simples, mais autêntico. Menos doméstico.
do baú das velharias
6 Comments:
Eu sou mulher e também adorava dançar Sex Pistols!! E às vezes também sinto uma certa melancolia... por esse tempo genuíno; por não passar em lado nenhum Sex Pistols...
Nunca fui fã dos Sex Pistols, mas sou fã deste blogue. Parabéns.
Vítor Pinto Basto
Sol, onde andavas tu naquele tempo? :)
Obrigado, Vítor Pinto Basto.
sex pistols... lembro-me de os ouvir a primeira vez numa garagem de um amigo meu, numa dessas festas de ínicio de verão.
também fazia parte de um terceiro grupo, mas ainda não sabia o que eram "os paraísos artifíciais", só mais tarde, e a garagem passou a ser outra.
manuel, a encomenda seguiu hoje. dito assim, depois de falares em paraísos artificiais, ainda vamos presos. :)
Hmbf, andava por aí, "perdida" a viver a juventude!! ;)
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