O Independente
Era um jornal e acabou. Não lhe lamento o fim, foi o que fez por merecer. Desde que Inês Serra Lopes lhe meteu mão, comprei-o para aí uma dúzia de vezes. Dizem que é excelente jornalista. Nunca vi. Ainda assim, dou a mão à palmatória: O Independente foi indiscutivelmente, pelos vícios e pelas virtudes, um dos melhores jornais portugueses da década de 1990. Demagógico e cínico como nenhum outro, mas sem dúvida dos melhores. Dos últimos números que li com agrado, já a entrar no século XXI, guardo alguns números da Ícon e praticamente todos da Best Of. Eram, foram, revistas integrantes do jornal. Recordo também as traduções de poetas espanhóis e os originais de Joaquim Manuel Magalhães, crónicas sobre arte de João Miguel Fernandes Jorge, os textos sobre cinema de João Bénard da Costa, pouco mais. Dos tempos mais primevos, um nome vem à liça da memória: Miguel Esteves Cardoso. Só ele, é motivo para comprar um jornal. (excepto se esse jornal for o Expresso) O Independente deu a conhecer uma direita com sentido de humor, atrevida, inconformada, com um «je ne sais quoi» de revolucionária (ó sacrilégio) e, sobretudo, inteligente. No entanto, à hora da morte, são outras as questões que o fim d’ O Independente inspira. Cito JPP: «Agora que um jornal morreu, continuo perplexo com a vida de outros. Como é que o Semanário sobrevive? Não lhe desejo nada de mal, mas é para mim um mistério a sua continuidade sem jornalistas, sem leitores e sem anunciantes.» Quem quiser, desconfio que alguém saiba, que responda.
2 Comments:
Fora os nomes citados e mais uns 2 ou 3, esse jornal, embora ajudasse a enterrar a grunhice cavaquista e outras, foi muito nocivo na formação de uma mentalidade displicente, irresponsável,muito colorida e cabotina, de uma "lisboetice" pedante, de um convite à "charge" parvalhona e à piadola fácil. Algum marasmo apolítico das geraçõe que o leram, entre outros marasmos muito "in" nasceu aí.
E não posso esquecer os "concertezas" e outros erros ortográficos rafeiros, que ajudou a propalar.
Que descanse em paz. Até porque nem só "O amor é fodido"...
engraçado. lembro um dos jornalistas fundadores, algum tempo antes da abertura, a dizer-me num bar: "é o projecto da nossa geração". Lembro uns anos depois o último número que comprei, a capa informava, garrafal, "gangs de negros" que saqueavam comboios ou lá o que era (para esta cloaca não dou mais, resumi) - foi o projecto da nossa geração. Mas fraca geração, a minha.
Há alguns (2/3?) anos fui aí e li o jornal - tinha, muito de longe, a melhor página internacional da imprensa portuguesa (a cuja, nesse capítulo, só não é tétrica pois é mera ignorância).
Foi o projecto da geração, confirmei. Até confirmando a miséria das outras
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