1.10.06

IVG # 1

Há uns tempos, motivado por uma discussão escabrosa acerca da IVG, criei um weblog sobre o problema do aborto. Já tinha uma filha, agora tenho duas. Os meus amigos chamam-me louco, mas eu gostaria de ter três, quatro, cinco ou seis filhos. Houvesse condições. Adiante. O que quero dizer é que as minhas filhas nasceram quando eu e a mãe delas assim o entendemos. Nasceram porque nós quisemos que elas nascessem. Outras ocasiões houve em que não as desejaríamos, o que implicaria, se a prevenção falhasse, o recurso a uma técnica que faria de nós criminosos. Na família há mulheres que abortaram, voluntária e involuntariamente. Não consigo ver nas suas decisões qualquer tipo de crime. É óbvio que têm de existir limites, sobretudo de ordem moral, para a prática abortiva. As 10 semanas parecem-me um prazo perfeitamente razoável, assim o permita um sistema que obriga os seus utentes a intermináveis esperas e paciência canina. Por falar em moral, leio no Expresso que o referendo custará €5 milhões de euros. Torna-se cada vez mais clara a dispensabilidade deste referendo. São €5 milhões que poderiam, desde já, começar a ser aplicados na criação das infra-estruturas necessárias para a prática legal da IVG. É o país que temos, é a sociedade que temos, os políticos que temos. Portugal é há muito o país do desperdício. Concordo com praticamente tudo o que Fernanda Câncio tem escrito sobre este tema. Quero, por isso, chamar a atenção para um post onde parte do essencial fica dito (sublinhados meus): «não sei o que é isso do aborto 'livre' (…). defendo, sim, que qualquer mulher possa decidir, dentro de um prazo de tempo razoável, se quer ou não levar uma gravidez a termo»; «a sociedade exige à mulher que tenha um filho que não deseja se ele for 'perfeitinho', mas não exige que ela tenha um filho que não deseja se for 'anormalzinho'. que querida, a tal de sociedade, que também é muito compreensiva com as mulheres quando são violadas, de tal modo que as deixa abortar até às 16 semanas um fruto desse crime (desde que um médico acredite que o crime aconteceu, já que a lei não exige queixa-crime nem indícios investigados pela polícia -- nem podia, isso era coisa para levar uns dois anos) -- porque não acha exigível que sejam obrigadas a dar à luz uma criança que resulta de sexo 'não consensual'; «todos os bebés devem ser desejados e amados -- é um direito que eu lhes desejo inalienável. a expectativa da felicidade não a garante, claro, mas ajuda um bocado, e nisso e em muitas outras coisas eu estou com os founding fathers.» O que falta ao quase, há-de vir. Até lá, muito entretém para treinadores de bancada vai rolar no espaço cibernético.

1 Comments:

At 12:58 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Quero felicitar o autor por incluir este texto aqui- este assunto é complexo, continuando este Portugal dos Pequeninos a querer misturar assuntos de ginecologia, consciência íntima e direitos cívicos com religiões, orçamentos de estado, políticas. O drama vai sempre ter à ancestralidade matriarcal do ser feminino e todas as implicações atinentes. Katherine Ann Porter disse-o melhor:

"O que um homem fez apenas por Deus, uma mulher fê-lo sempre por um homem"

Assim sendo, tenho para mim, que neste país de carpideiras e de beatas, venham eles Sócrates, Câncios, Louças, etc e tal, o assunto nunca se vai resolver. E é que o problema não são eles: são elas!A auto-estima da população feminina portuguesa anda quase sempre pelas ruas da amargura, o direito divino à nascença da escolha e da opção própria não existe. Lá está, não foi por Deus, foi por um homem...elas se encarregarão de manter a tradição: Deus, Pátria e Família.

 

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