SANGUE, SILÊNCIO
Há pessoas que usam calendários, enforcam-se aos dias, têm adolescências grandes com heróis que amam muitas vezes quando a família cala. São filhos de senhores que quiseram voar. As mães têm virtudes terapêuticas, por vezes são lindas, outras são alheias por excesso de charme. As avós cozem peixe com sabor a mar, ninguém percebe como, há tantas coisas que as avós fizeram para agora terem vergonha de as recordar como amigos bonitos que lhes falavam ao ouvido, encostado o sopro ao peito imaginado delas. São varizes na memória, pratos que partiram junto ao osso de uma teimosia cheia.
Ninguém se acredita no que uma senhora respeitável pode conceber, eu ausculto-lhes as sombras porque no fundo não posso levantá-las pelos braços e fazê-las girar como estações orbitais ou promontórios vastos. Respeito-lhes os sinais e adormeço na sala dos marginais por vocação.
Tossem muito os marginais.
Vou andar a pé, achar o tanque vazio__ a pessoa muda que nasce do vício com seus olhos de fumo e a barriga de cinza.
Rui Costa
4 Comments:
Acho que já escrevi isto algures.
eu gostei muito!
venham novos livros rui!
hmbf: cuidadinho com os vírus
fernando dinis: vêm novos livros, sim, o que sempre ajuda a arrumar a papelada :)
Rui Costa
ah malvado
és tu
o vírus
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