Uma imitação de Henrique Fialho
Da última vez que me fizeram um ainda a poesia tropeçava na sua metáfora mais grosseira, como se não tivesse pernas para andar e precisasse de muitas bengalas para se amparar. Ainda existia, imagine-se, a forma e o conteúdo, espartilhos que nos apertam as nalgas mas dão uma certa segurança. Foi há muito tempo? Não, agora mesmo. O poeta não deve ser necessariamente um homem social, daí o felatio, que é às escuras e sem a presença do papa que, aliás, não é bicho a quem goste de beijar o anel. Sem forma nem conteúdo, sem bengala, sem óculos, sem pernas, com penas - é assim que vejo a poesia livre de Gerónimo Riovaldo...
(entra foto de poeta)
Gerónimo Riovaldo nasceu em Moimenta da Beira (Moçambique) e colaborou muito nos Cadernos da Solidão, foi perseguido impiedosamente pelas editoras mais ricas mas resistiu, sendo publicado já no fim da vida graças aos bons ofícios de uma ministra da cultura que lhe achou graça às plumas. «Tem penas mas não é passarinho», disse ela. G. R. fez parte do movimento dadaísta beirão mas depressa rompeu. Faleceu em 1927, não sem antes ter passado pela China. Dizem que fumava e tinha o fetiche das beatas com bâton que depositava religiosamente em cinzeiros azuis.
Filipe Guerra »»»
1 Comments:
hehehehe, fixe.
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