24.11.06

EM DIA BRADO

Eu barco bêbedo rimbaldiano
atracado aos balcões de tascas e bares.
Eu hiper hipocondríaco posto de castigo
a uma janela com vista para a morte.
Eu nó cego de contradições.
Eu com um globo debaixo do braço
a estilhaçá-lo de encontro a uma parede.
Eu de mãos no fogo e corpo estendido na grelha.
Eu tétrico libertinário
num tempo de falinhas e falos mansos.
Eu electroselvagem com o estômago ronronante
em seminários de civilidade.
Eu herança genética das incompatibilidades
entre o meu pai e a minha mãe.
Eu heterónimo póstumo do Fernando Pessoa
no expediente a trabalhar num escritório inglês
e nas horas livres a trabalhar a cirrose.
Eu poeta demo’neíllico.
Eu e as minhas noitadas nim.

Eu em dia brado.

Vitor Vicente

Vítor Vicente nasceu em 1983 no Barreiro. Frequentou o curso de Filosofia da FCSH e da FLUL. Estreou-se na poesia com um pequeno folheto, intitulado Tríptico do Narciso, publicado em Abril de 2006 na editora Canto Escuro, projecto editorial que dirige desde 2005. Escreve crónicas literárias para o Notícias do Nordeste. Vive, neste momento, em Barcelona.